São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Pesquisa analisa visões da loucura por meio de fotos feitas em hospícios do país

Claudio Edinger
Paciente psiquiátrica no manicômio Juquery, fotografada por Claudio Edinger em 1989

MARIANA VERSOLATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 1989, o fotógrafo Claudio Edinger se internou no hospital do Juquery, em Franco da Rocha (SP), com o objetivo de "trazer a público aquilo que a maioria prefere ignorar". O trabalho de Edinger, ao lado de registros da loucura feito por três outros fotógrafos, em épocas diferentes, são objeto de pesquisa da professora de artes Tatiana Fecchio Gonçalves, que reuniu cerca de 800 imagens de doentes mentais em hospitais psiquiátricos.
Para estudar a representação do louco e da loucura por meio da arte, em sua tese de doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a autora analisou a produção de Alice Brill, fotógrafa e artista plástica alemã que retratou o hospital do Juquery (SP) em 1950, assim como fez Edinger, em 1989 e 1990; Leonid Streliaev, repórter fotográfico que fez imagens do Hospital São Pedro (RS) em 1971; e Cláudia Martins, que produziu imagens da Colônia Juliano Moreira, no Rio, entre 1997 a 1999.
O período desses ensaios corresponde às mudanças provocadas pela reforma psiquiátrica iniciada na década de 1960, que significou a desativação gradual dos chamados manicômios.
O objetivo da pesquisa foi identificar, por meio da análise das representações selecionadas, a forma como a sociedade brasileira compreendeu o louco e a loucura.
Para Heloísa Ferraz, professora aposentada da Escola de Comunicação e Artes da USP (Universidade de São Paulo) e pesquisadora das relações entre arte e loucura, a sociedade apresenta um olhar diferente sobre a loucura conforme a época, seja na literatura, nas artes plásticas ou na fotografia.
Mas, apesar das mudanças na abordagem e na visão da doença mental, a "loucura" é sempre estigmatizada no imaginário social, diz a professora: "As obras tendem a permanecer como representações de destruição ou de isolamento".
O hospital do Juquery foi fundado em 1898 pelo médico Franco da Rocha. Em seu auge, entre as décadas de 60 a 80, chegou a abrigar 18 mil pessoas.
Hoje, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, tem apenas 255 pacientes crônicos que não têm para onde ir. O hospital, que até 1995 tinha 2.000 pessoas, vem sendo desativado ano a ano.


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