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Reduzir estômago aumenta risco de fratura e de cálculo
Conclusão é de dois novos estudos feitos nas áreas de urologia e endocrinologia
Aparecimento das pedras nos rins acontece porque o metabolismo sofre alteração com a cirurgia e os níveis de oxalato ficam aumentados
FERNANDA BASSETTE
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pessoas que fazem cirurgia
de redução de estômago possuem quase duas vezes mais
risco de ter pedra nos rins e de
sofrer fraturas relacionadas à
deficiência de cálcio e de vitamina D no organismo, revelam
novos estudos nas áreas de endocrinologia e de urologia.
Um dos trabalhos, com 9.278
pessoas, foi publicado no
"Journal of Urology". Durante
cinco anos, pesquisadores da
Johns Hopkins University avaliaram 4.639 pacientes que fizeram a cirurgia e compararam
com número idêntico de obesos que não se submeteram à
redução de estômago.
Eles observaram que 7,65%
daqueles que fizeram a cirurgia
foram diagnosticados com pedra nos rins, enquanto apenas
4,63% das pessoas do grupo
controle tiveram o problema.
Segundo o urologista José
Carlos de Almeida, presidente
da Sociedade Brasileira de Urologia, o aparecimento de cálculos renais foi discutido no último congresso americano de
urologia, pois a cirurgia bariátrica passou a apresentar problemas que antes não eram conhecidos pelos especialistas.
"Esse estudo trouxe à tona
uma informação que não existia de forma clara. Percebíamos
que havia um aumento no número de casos, mas não tínhamos como afirmar que existia
essa relação", diz.
De acordo com Almeida, a
formação das pedras acontece
porque a cirurgia de redução do
estômago altera o metabolismo
e aumenta o nível de oxalato no
organismo. O oxalato é um elemento importante na formação
dos cálculos renais -cerca de
90% das pedras são formadas
por ele.
Além disso, Almeida diz que
as cirurgias bariátricas também
diminuem a absorção de magnésio e de citrato -duas substâncias que ajudam no processo de diluição do oxalato. "Todas as pessoas têm cristais de
cálcio na urina. Se elas não tiverem magnésio e citrato em
quantidade suficiente, elas poderão formar cálculos", avalia.
Thomaz Szegö, presidente da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica, diz que a possibilidade de formação de cálculos
é um dos principais incentivos
para que os pacientes se mantenham hidratados. "Durante a
perda intensa de peso, o metabolismo se altera. Se o paciente
consegue manter o fluxo renal
adequado [bebendo bastante
água], é possível prevenir o aparecimento das pedras."
Fraturas
Os pacientes que se submetem a cirurgias bariátricas também têm quase duas vezes mais
risco de sofrer fraturas, especialmente de pés e de mãos. Os
resultados, ainda preliminares,
vêm de um novo estudo apresentado no congresso da Sociedade Americana de Endocrinologia, no mês passado.
Os pesquisadores selecionaram 142 pessoas que fizeram cirurgia bariátrica de 1985 a 2004
nos EUA. Foram avaliados o tipo de cirurgia, estilo de vida e
condições nutricionais. Depois,
foram analisados as datas e locais da fratura e os mecanismos
que a provocaram.
"Nós já sabíamos que há uma
dramática e extensa perda óssea após a cirurgia bariátrica,
mas não sabíamos o que isso
significava em termos de fratura", afirmou Jackie Clowes,
uma das autoras do estudo.
As pessoas foram acompanhadas durante seis anos. Nesse período, 36 sofreram 53 fraturas, a maioria delas nos braços e nos pés. Também foram
relatadas fraturas no quadril,
na espinha dorsal e no úmero.
"O aumento da incidência de
fraturas não é um fenômeno
que ocorre logo após a cirurgia,
mas sim anos depois."
O estudo não aponta, porém,
quais os mecanismos envolvidos na maior incidência de fraturas. De acordo com Marise
Lazaretti Castro, presidente da
regional paulista da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia, a
hipótese que poderia explicar
as fraturas a longo prazo é o fato de haver, após a cirurgia bariátrica, deficiências graves de
vitamina D e cálcio. "As pessoas
começam a ter diarreias, têm
menos absorção dos nutrientes", afirma a médica.
Castro diz que existem opções para contornar o problema. "O paciente tem que fazer a
reposição desses nutrientes
[que são menos absorvidos]. E
não pode jamais abandonar o
tratamento", alerta a médica.
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