|
Próximo Texto | Índice
Cápsula de maconha trata fobia social
Em dois novos trabalhos brasileiros, substância tirada da planta reduziu sintomas de ansiedade dos pacientes
Transtorno é controlado hoje com terapia e remédios que causam dependência, além de demorar para agir
JULLIANE SILVEIRA
DE SÃO PAULO
Uma substância extraída
da maconha ajuda a tratar
pacientes com fobia social. É
o que mostram dois estudos
inéditos da USP de Ribeirão
Preto com pacientes que ingeriram cápsulas de canabidiol, um dos 400 compostos
encontrados na erva.
Em um dos trabalhos, dez
pacientes foram avaliados
por imagens do cérebro: após
o consumo do remédio, as
áreas cerebrais que são hiperativadas nos doentes tiveram atividade reduzida.
Isso indica que a substância pode atuar diretamente
na região e minimizar os sintomas desse tipo de fobia.
A outra pesquisa analisou
os níveis de ansiedade de 36
pessoas que tiveram de falar
em público -uma das situações mais complicadas para
quem tem o transtorno.
Todos tiveram de fazer um
discurso de quatro minutos
em frente a uma câmara -24
deles tinham a doença e 12
ingeriram canabidiol.
Os voluntários com fobia
social que tomaram a cápsula apresentaram sinais de ansiedade semelhantes aos dos
saudáveis. Já os doentes que
ingeriram placebo mantiveram os padrões de ansiedade
causados pela fobia.
Os mecanismos de ação da
substância ainda não são
bem conhecidos pelos pesquisadores. Mas já se sabe
que o canabidiol tem um efeito tranquilizante mesmo em
pessoas saudáveis.
A fobia social pode ser tratada com remédios e psicoterapia. Mas as drogas podem
demorar até 20 dias para ter
efeito e causar dependência.
"Nesse experimento, observamos o efeito com uma
única dose, o que faz supor
que o canabidiol tenha a vantagem de começar a agir de
imediato", diz o psiquiatra
Antonio Zuardi, do departamento de neurociências e
ciências do comportamento
da Faculdade de Medicina da
USP de Ribeirão Preto.
Para os pesquisadores, os
resultados também ajudam a
explicar por que pacientes
com transtornos de ansiedade fumam maconha com
mais frequência do que a população geral.
"Talvez eles não procurem
a droga pelo "barato", mas pela ação do canabidiol. Seria
uma forma de automedicação. O problema é que eles
consomem junto outras
substâncias com efeitos negativos", afirma José Alexandre Crippa, também psiquiatra da USP de Ribeirão Preto.
No Brasil, ainda não há autorização para o uso terapêutico de nenhuma substância
derivada da cânabis.
Próximo Texto: No Reino Unido, medicamento vai tratar esclerose Índice
|