São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

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ANÁLISE

Se o efeito placebo é real, por que não incorporá-lo ao tratamento?

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

O efeito placebo é um dos mais extraordinários aspectos da mente humana e mais mal compreendidos. Ele é extraordinário porque mostra que o cérebro é capaz de produzir reações cuja capacidade de cura é comparável ao de drogas poderosas.
E é mal compreendido porque costuma ser descrito pejorativamente como algo que "está apenas na sua cabeça". A existência do efeito foi demonstrada em diversas condições. Um trabalho de 2008 mostrou que 79% dos pacientes submetidos ao placebo responderam bem à "terapia", contra 93% dos que tomaram drogas reais.
Esse tipo de reação não se limita a pílulas de farinha. O efeito placebo também foi documentado em acupuntura que utiliza os pontos "errados" e até agulhas falsas.
Evidentemente, placebos funcionam melhor para algumas doenças do que para outras. São pouco eficazes para infecção e câncer, mas se saem bem com dores crônicas.
Se não há dúvida de que o efeito placebo seja real e às vezes poderoso, sua importância clínica é polêmica. Metanálises publicadas por um grupo dinamarquês em 2001, 2004 e 2010 sugerem que o fenômeno é superestimado. As conclusões desses trabalhos sofreram duras críticas. A controvérsia serve para mostrar que mais estudos são necessários.
A questão que fica é: já que o efeito placebo é real, por que não explorá-lo, incorporando-o à prática médica? Afinal, preparados inertes raramente provocam reações adversas (de vez em quando provocam, é o efeito nocebo) e são mais baratos. A objeção aqui é de ordem ética. A sua utilização envolve algum grau de enganação.
Não obstante a limitação ética, muitos bolam formas criativas de superá-la, como o uso de vitaminas, subdoses e a velha homeopatia.


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