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Excesso de ferro pode prejudicar organismo
Para pesquisadora da Universidade de Brasília, o mineral presente na carne é o que causa mais danos
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ter uma dieta rica em ferro é
fundamental -ainda mais em
um país com grande índice de
anemia, como o Brasil. Mas um
estudo acaba de mostrar que é
preciso tomar cuidado com o
exagero. Feito na Universidade
de Brasília, o trabalho, que será
publicado na revista "Nutrition", constatou que dietas com
maior quantidade do nutriente
geram danos em moléculas do
organismo, podendo levar a
problemas como câncer e
doenças cardiovasculares.
A pesquisadora, Juliana
Frossard Mendes, avaliou o
consumo de ferro na dieta e a
quantidade de ferritina (proteína que armazena o ferro) de
134 adultos. Depois, ao medir o
nível de dano em lipídios e proteínas corporais, viu que era
"significativamente" maior nos
25% que ingeriam mais ferro.
Isso ocorre porque o ferro
acelera as reações dos radicais
livres, que acabam deixando
um dano em outra molécula
-um lipídio, uma proteína ou o
DNA da célula. "Como não conseguimos dosar os radicais livres, medimos os danos nas
proteínas e nos lipídios. Esses
danos podem prejudicar a função celular: se for o DNA da célula, pode ter início o desenvolvimento de um câncer. Se for
um lipídio, ele pode se acumular e gerar um atacar cardíaco."
Ela diz que não se sabe a partir de qual quantidade o ferro
passa a ser prejudicial. Na pesquisa, os 25% que consumiam
mais ingeriam, em média,
22,76 mg do mineral por dia.
O ferro da carne (hêmico) foi
o que gerou mais danos. Mas
Mendes diz que outros estudos
mostram que o ferro não-hêmico também pode ser prejudicial
em excesso. "Meu estudo foi
feito com população de baixa
renda, que tinha dieta mais pobre, mas o ferro não-hêmico
pode se tornar mais biodisponível quando a pessoa tem uma
alimentação rica em frutas."
O ferro adicionado a farinhas, por exemplo, é não-hêmico. Segundo Mendes, o fato de a
adição ser obrigatória no Brasil
contribui para que mesmo
quem não precisa possa receber excesso desse mineral. Ela
diz que deveria haver um limite
de adição -alguns produtos
contêm até dez vezes mais o nível de ferro natural do alimento. "As ações deveriam visar
grupos com deficiência e de risco, como gestantes e crianças, e
não todo mundo", defende.
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