São Paulo, segunda-feira, 08 de fevereiro de 2010

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Corticoide inalável é pouco eficaz em doença pulmonar

Droga tem pouco efeito no controle das crises respiratórias em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica

Revisão de onze estudos envolvendo mais de 8.000 pessoas confirma atuais diretrizes; remédio só deve ser usado em casos graves

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma revisão de onze estudos, envolvendo um total de 8.164 pessoas, publicada neste mês no periódico "Chest" mostra que o uso de corticoides inaláveis por pacientes com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) traz pouco resultado no controle de crises respiratórias em comparação com a ingestão de um placebo.
As diretrizes internacionais sobre o tratamento da doença indicam o uso de corticoides inalados em pacientes em estado grave, isto é, em pessoas com função pulmonar abaixo de 50% de uma pessoa saudável e que sofra de exacerbações (crises) em alta quantidade. No entanto, o assunto é bastante discutido entre especialistas.
"Há uma enorme controvérsia na literatura médica sobre quando começar a dar esse tipo de remédio ao paciente. Os médicos se perguntam se as diretrizes estão corretas ou se estamos privando outras pessoas do tratamento porque o oferecemos em uma fase mais avançada", diz o pneumologista Alberto Cukier, pneumologista do InCor (Instituto do Coração), em São Paulo.
Para Cukier, o estudo ajuda a apontar que as diretrizes atuais são corretas. Em pacientes com crises menos frequentes, o remédio não traz benefício. Mas para os mais graves, que sofrem muitas exacerbações, com tosse e falta de ar, o remédio pode reduzir o mal-estar, ainda que de forma modesta.
"O uso de corticoide inalado em DPOC tem bastante restrição do ponto de vista científico. Em pacientes graves, diminui as exacerbações e aumenta a qualidade de vida", acrescenta Rafael Stelmach, ex-presidente e membro da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia.
Pessoas que usam esses remédios têm potencial maior de desenvolver pneumonia, alterações da imunidade e do metabolismo, como ocorre com outras formas de apresentação da cortisona. Entretanto, o risco de efeitos colaterais é baixo. "Pacientes têm um certo temor por causa da cortisona, ainda que injustificado. Há potenciais problemas, mas pequenos porque é administrada por via nasal", afirma Cukier.
A DPOC atinge cerca de oito milhões de brasileiros e é causada principalmente pelo tabagismo. O prognóstico da doença é ruim. "O que há em termos de medicamento é adaptação do que dá certo em asmáticos. Mas as respostas estão longe de ser brilhantes", diz Cukier.
Parar de fumar é a única maneira de parar o avanço da doença. Ainda assim, as lesões nos pulmões são irreversíveis. Pacientes com comprometimento que interfira nas atividades diárias devem passar por reabilitação, para aprender a conviver com as limitações.


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