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Uso dos remédios em ração é ligado a superbactérias
Antibióticos misturados em comida de porcos, bois e frangos levam ao surgimento de organismos resistentes, diz pesquisadora
DENISE MENCHEN
DO RIO
Controlar o uso de antibióticos em pessoas não é suficiente para conter superbactérias, alerta a pesquisadora
alemã Kornelia Smalla. Ela
defende a redução do uso
dessas drogas em animais.
Para Smalla, que falou
com a Folha na sexta, após
palestra no Instituto Oswaldo Cruz, o problema é misturar antibióticos à ração, para
estimular o crescimento de
porcos, bois e frangos.
A prática, proibida na Europa desde a década de 90,
ainda é permitida no Brasil.
No ano passado, o senador
Tião Viana (PT/AC) apresentou projeto de lei para aboli-la, mas o texto está parado na
Comissão de Agricultura e
Reforma Agrária do Senado.
Smalla, que é do instituto
Julius Kühn, diz que até o uso
restrito ao tratamento de
doenças traz riscos. Como os
animais ficam confinados
aos milhares, a ocorrência de
uma doença em alguns resulta na distribuição de antibióticos para todos, o que favorece a disseminação das superbactérias.
"Algumas têm genes que
as protegem dos antibióticos.
Quando usamos esses medicamentos, elas são as únicas
que sobrevivem", diz. Com o
ambiente livre dos outros micróbios, elas passam a se
multiplicar de forma rápida,
o que eleva o risco de que,
um dia, entrem em contato
com pessoas com baixas defesas. O resultado são infecções que podem matar.
A situação fica mais grave
porque as bactérias trocam
informações genéticas: um
organismo inofensivo ao homem que se prolifere pela capacidade de resistir a antibióticos contribui para que
outro, patogênico, também
ganhe essa característica.
"O antibiótico não age só
sobre os causadores de doenças, mas sobre todas as bactérias." Para enfrentar o problema, ela defende mudanças na criação dos animais,
com o fim do confinamento.
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