São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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Uso dos remédios em ração é ligado a superbactérias

Antibióticos misturados em comida de porcos, bois e frangos levam ao surgimento de organismos resistentes, diz pesquisadora

DENISE MENCHEN
DO RIO

Controlar o uso de antibióticos em pessoas não é suficiente para conter superbactérias, alerta a pesquisadora alemã Kornelia Smalla. Ela defende a redução do uso dessas drogas em animais.
Para Smalla, que falou com a Folha na sexta, após palestra no Instituto Oswaldo Cruz, o problema é misturar antibióticos à ração, para estimular o crescimento de porcos, bois e frangos.
A prática, proibida na Europa desde a década de 90, ainda é permitida no Brasil. No ano passado, o senador Tião Viana (PT/AC) apresentou projeto de lei para aboli-la, mas o texto está parado na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.
Smalla, que é do instituto Julius Kühn, diz que até o uso restrito ao tratamento de doenças traz riscos. Como os animais ficam confinados aos milhares, a ocorrência de uma doença em alguns resulta na distribuição de antibióticos para todos, o que favorece a disseminação das superbactérias.
"Algumas têm genes que as protegem dos antibióticos. Quando usamos esses medicamentos, elas são as únicas que sobrevivem", diz. Com o ambiente livre dos outros micróbios, elas passam a se multiplicar de forma rápida, o que eleva o risco de que, um dia, entrem em contato com pessoas com baixas defesas. O resultado são infecções que podem matar.
A situação fica mais grave porque as bactérias trocam informações genéticas: um organismo inofensivo ao homem que se prolifere pela capacidade de resistir a antibióticos contribui para que outro, patogênico, também ganhe essa característica.
"O antibiótico não age só sobre os causadores de doenças, mas sobre todas as bactérias." Para enfrentar o problema, ela defende mudanças na criação dos animais, com o fim do confinamento.


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