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Tratamento falha para 30% das pessoas com HIV
Segundo dados da Unifesp, apesar de alto, número caiu 11% em 5 anos
Quando medicamentos não fazem efeito, há mais risco de o paciente passar o vírus resistente para outras pessoas
FERNANDA BASSETTE
GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO
Portador do vírus HIV e em
tratamento há cinco anos, o
auxiliar administrativo Humberto, 34, está experimentando a sétima geração de remédios. Sem sucesso.
Ele é mais um dos que engrossam a lista de pacientes
que apresentam falha na resposta aos antirretrovirais: segundo pesquisa da Unifesp,
um em cada três portadores
de HIV em tratamento no
país tem resistência à maioria das drogas disponíveis.
Humberto é o retrato dessa
situação: já usou todas as
classes possíveis de remédios e está na sua última tentativa. Se desta vez não der
certo, não tem outro medicamento que o substitua.
"No primeiro ano, troquei
de remédio quatro vezes. Depois, passei para uma medicação líquida, que me deu
alergia e deixou meu corpo
todo empipocado. Fiz outras
tentativas e agora estou tomando essa nova classe, que
é a mais moderna", diz.
Na semana passada,
quando fez o último exame
para medir o nível de CD4
(células de defesa) no corpo,
Humberto soube que seu organismo está respondendo
lentamente ao tratamento.
"Aumentou de 300 para
339", comemora.
HIPÓTESES
Segundo o infectologista
Ricardo Diaz, autor do levantamento, as principais hipóteses para explicar a resistência do vírus ao tratamento
são: uso incorreto do coquetel; o vírus já era resistente
antes do remédio (transmissão primária) ou pode haver
alguma alteração no metabolismo do paciente.
Caio Rosenthal, infectologista do Emílio Ribas, diz que
a maioria dos casos de resistência (excluindo aqueles
que se contaminaram com o
vírus já resistente) acontece
por falha na adesão do paciente ao tratamento.
"Se a pessoa toma direito e
a carga viral fica indetectável, não tem como se tornar
resistente. É possível usar os
remédios por 20 anos sem desenvolver resistência", diz.
Ronaldo Hallal, do departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério
da Saúde, diz que a resistência também está ligada ao
diagnóstico tardio.
"Se a pessoa começa a se
tratar com a imunidade alta,
a chance de desenvolver resistência é menor. Mas, se começa o tratamento quando
está doente, o risco é maior."
LIGEIRA MELHORA
A falta de adesão ao tratamento pode ser consequência dos efeitos colaterais das
drogas e dos coquetéis com
grande número de comprimidos - caso de Humberto, que
toma seis por dia e ainda tem
náuseas e diarreia.
"O mundo se preocupa
com a resistência. Aqui, médicos dão aconselhamento
sobre novo esquema [de tratamento] a ser adotado. É raro não ter opção", diz Hallal.
Apesar de o medicamento
falhar em um número alto de
casos, a situação já foi pior:
nos últimos cinco anos, a falha na resposta caiu 11%.
"Apesar de ainda termos
30% de falha, esse número
está diminuindo ao longo
dos anos", afirma Diaz.
Segundo ele, com a evolução das drogas, é cada vez
mais difícil a pessoa ficar
sem opção de tratamento.
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