São Paulo, sexta-feira, 09 de outubro de 2009

Próximo Texto | Índice

Procedimento trata doença pulmonar com anestesia local

Método para enfisema é experimental; nove pacientes já foram beneficiados e apresentaram melhoras significativas

Usada há três anos na Santa Casa, técnica brasileira implanta um dreno de 7 cm que ajuda a liberar o ar que está represado no pulmão


FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma técnica cirúrgica simples, realizada com anestesia local, está sendo testada há três anos na Santa Casa de São Paulo para tratar pacientes com enfisema pulmonar avançado.
O enfisema é uma doença progressiva das vias respiratórias, caracterizada pela dilatação excessiva dos alvéolos. Em 90% dos casos, a doença é provocada pelo cigarro, que inflama os brônquios, diminui o calibre na entrada dos alvéolos e destrói o tecido pulmonar.
Com o tempo, o paciente perde a capacidade de respirar normalmente, pois a troca gasosa fica debilitada e o ar fica acumulado nos pulmões (que aumentam de volume).
Estima-se que de 6% a 7% da população com mais de 40 anos tenha o problema -estudos recentes mostram que o índice é de 10% na cidade de São Paulo. Os tratamentos atuais incluem terapias medicamentosas, cirurgia para diminuição do volume pulmonar ou transplante.
Há mais de dez anos o pneumologista Roberto Saad Júnior, professor-titular da Faculdade de Medicina da Santa Casa, começou a testar técnicas para tratar a doença e, há três, passou a usar experimentalmente a cirurgia de implante de um dreno no pulmão.
A função do dreno é facilitar a saída do ar que ficou represado nos pulmões. Durante a cirurgia, o paciente recebe anestesia local (pouco acima da mama, do lado do pulmão mais doente) e um corte de 4 cm.
Em seguida, o médico pinça o pulmão e faz um pequeno orifício, onde será colocado o dreno de silicone de 7 cm de comprimento. O equipamento fica exposto ao ambiente, deve ser trocado semanalmente e será usado pelo resto da vida.
Saad já operou nove pacientes e os acompanhou durante três anos. No início, todos tinham indicação para transplante, dependiam de oxigênio para andar e dormir e não conseguiam mais realizar as atividades cotidianas. Eram pacientes que não respondiam mais aos tratamentos disponíveis.
Trinta dias após a cirurgia, os pacientes relataram melhora da capacidade respiratória. Meses depois, todos conseguiram retomar as funções rotineiras, abandonaram o aparelho de oxigênio e, pelo menos por enquanto, não precisam fazer o transplante.
"O enfisema é uma doença difícil, pois o doente morre sufocado no próprio ar. Essa cirurgia não cura o enfisema, mas corrige a principal dificuldade do pulmão, que é eliminar o ar acumulado. O dreno funciona como um novo nariz", explica Saad, autor da técnica.
"Apenas um dos pacientes operados morreu, mas por causa de um câncer na bexiga e não por causa do enfisema. Os outros estão muito bem, sobem e descem escadas, voltaram a trabalhar. Superaram as expectativas e melhoraram a qualidade de vida. É isso o que importa."
Os resultados dos testes com pacientes foram publicados no começo do ano no "Jornal Brasileiro de Pneumologia".
O pneumologista Alberto Cukier, coordenador da Comissão de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) da Sociedade Brasileira de Pneumologia, diz que a cirurgia de redução do volume pulmonar é o tratamento padrão desses pacientes com doença crônica, embora ela também não cure o problema definitivamente.
Ele considera a técnica da Santa Casa importante porque, aparentemente, serve como adiamento do transplante.
"A sobrevida do transplante é baixa. Cerca de 30% dos transplantados morrem no primeiro ano. Em cinco anos, outros 50% morrem. Essa cirurgia é paliativa, mas proporciona anos a mais de vida antes do transplante", diz Cukier.
O pneumologista Fernando Studart, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que a técnica parece promissora, pois vários pacientes não são elegíveis para receber o transplante ou a cirurgia redutora do pulmão e, consequentemente, ficam sem alternativas de tratamento.


Próximo Texto: Pesquisa: Unesp testa terapia inédita com aplicação de células-tronco
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.