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Procedimento trata doença pulmonar com anestesia local
Método para enfisema é experimental; nove pacientes já foram beneficiados e apresentaram melhoras significativas
Usada há três anos na Santa Casa, técnica brasileira implanta um dreno de 7 cm que ajuda a liberar o ar que está represado no pulmão
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma técnica cirúrgica simples, realizada com anestesia
local, está sendo testada há três
anos na Santa Casa de São Paulo para tratar pacientes com
enfisema pulmonar avançado.
O enfisema é uma doença
progressiva das vias respiratórias, caracterizada pela dilatação excessiva dos alvéolos. Em
90% dos casos, a doença é provocada pelo cigarro, que inflama os brônquios, diminui o calibre na entrada dos alvéolos e
destrói o tecido pulmonar.
Com o tempo, o paciente perde a capacidade de respirar
normalmente, pois a troca gasosa fica debilitada e o ar fica
acumulado nos pulmões (que
aumentam de volume).
Estima-se que de 6% a 7% da
população com mais de 40 anos
tenha o problema -estudos recentes mostram que o índice é
de 10% na cidade de São Paulo.
Os tratamentos atuais incluem
terapias medicamentosas, cirurgia para diminuição do volume pulmonar ou transplante.
Há mais de dez anos o pneumologista Roberto Saad Júnior, professor-titular da Faculdade de Medicina da Santa
Casa, começou a testar técnicas
para tratar a doença e, há três,
passou a usar experimentalmente a cirurgia de implante de
um dreno no pulmão.
A função do dreno é facilitar
a saída do ar que ficou represado nos pulmões. Durante a cirurgia, o paciente recebe anestesia local (pouco acima da mama, do lado do pulmão mais
doente) e um corte de 4 cm.
Em seguida, o médico pinça o
pulmão e faz um pequeno orifício, onde será colocado o dreno
de silicone de 7 cm de comprimento. O equipamento fica exposto ao ambiente, deve ser
trocado semanalmente e será
usado pelo resto da vida.
Saad já operou nove pacientes e os acompanhou durante
três anos. No início, todos tinham indicação para transplante, dependiam de oxigênio
para andar e dormir e não conseguiam mais realizar as atividades cotidianas. Eram pacientes que não respondiam mais
aos tratamentos disponíveis.
Trinta dias após a cirurgia, os
pacientes relataram melhora
da capacidade respiratória.
Meses depois, todos conseguiram retomar as funções rotineiras, abandonaram o aparelho de oxigênio e, pelo menos
por enquanto, não precisam fazer o transplante.
"O enfisema é uma doença
difícil, pois o doente morre sufocado no próprio ar. Essa cirurgia não cura o enfisema, mas
corrige a principal dificuldade
do pulmão, que é eliminar o ar
acumulado. O dreno funciona
como um novo nariz", explica
Saad, autor da técnica.
"Apenas um dos pacientes
operados morreu, mas por causa de um câncer na bexiga e não
por causa do enfisema. Os outros estão muito bem, sobem e
descem escadas, voltaram a trabalhar. Superaram as expectativas e melhoraram a qualidade
de vida. É isso o que importa."
Os resultados dos testes com
pacientes foram publicados no
começo do ano no "Jornal Brasileiro de Pneumologia".
O pneumologista Alberto
Cukier, coordenador da Comissão de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) da Sociedade Brasileira de Pneumologia, diz que a cirurgia de redução do volume pulmonar é o
tratamento padrão desses pacientes com doença crônica,
embora ela também não cure o
problema definitivamente.
Ele considera a técnica da
Santa Casa importante porque,
aparentemente, serve como
adiamento do transplante.
"A sobrevida do transplante é
baixa. Cerca de 30% dos transplantados morrem no primeiro
ano. Em cinco anos, outros
50% morrem. Essa cirurgia é
paliativa, mas proporciona
anos a mais de vida antes do
transplante", diz Cukier.
O pneumologista Fernando
Studart, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz
que a técnica parece promissora, pois vários pacientes não
são elegíveis para receber o
transplante ou a cirurgia redutora do pulmão e, consequentemente, ficam sem alternativas
de tratamento.
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