São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2010

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Dieta amazônica aumenta longevidade

Estudo liga alimentação a fenômeno na cidade de Maués (AM), onde expectativa de vida supera média nacional

Pesquisador diz que o consumo de guaraná em pó explica a quantidade de octogenários ativos naquela população

IARA BIDERMAN
DE SÃO PAULO

Maués, no Estado do Amazonas, tem cerca de 50 mil habitantes. É uma típica cidade da floresta, com a população ribeirinha vivendo principalmente da agricultura e do extrativismo.
Mas Maués chamou a atenção do INSS. O grande número de beneficiários com mais de 70 anos (o dobro dos beneficiários de Manaus) levou o órgão a investigar se os aposentados estavam mesmo vivos. Estavam, e muito bem, obrigado.
Os longevos da cidade também despertaram o interesse do gerontólgo Euler Ribeiro, da Universidade Estadual do Amazonas.
Há mais de uma década estudando o envelhecimento dos amazonenses, ele constatou que, em Maués, a população com mais de 80 anos era duas vezes maior do que nas outras cidades do Estado. E lá a expectativa de vida, de 75 a 80 anos, superava os 73 da média nacional.

MEMÓRIA E FILHOS
Além de viverem mais, os idosos de Maués apresentam ótimas condições de saúde.
A incidência de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, reumatismo e demências é até 60% menor do que na capital.
Entre outras coisas, o gerontólogo espantou-se com o número de octogenários com filhos pequenos e memória afiada, tanto para as histórias do passado quanto para os fatos recentes.
"Além do fator genético, o exercício físico e o baixo nível de estresse favorecem a longevidade. Mas acredito que o segredo de Maués é a alimentação", diz Ribeiro.
A bióloga e geneticista Ivana Mânica da Cruz, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul), conta que uma análise dos alimentos típicos da dieta amazônica mostra que os compostos nutricionais são muito parecidos com os da dieta mediterrânea.

VINHO E GUARANÁ
"Estudos mostram que dietas como as do Mediterrâneo e da Ásia aumentam a expectativa de vida porque diminuem o risco de doenças crônicas. Mas não precisamos importar essas dietas porque temos aqui alimentos com as mesmas propriedades", afirma Euler.
A dieta amazônica é semelhante a essas em vários aspectos: o consumo de peixes e vegetais é alto, o de gordura animal é baixo. E, no caso de Maués, tem uma característica especial: eles tomam muito guaraná em pó.
Para Ribeiro, o guaraná substitui, com louvor, o vinho e o chá verde das dietas saudáveis mais famosas.
Nos estudos feitos no laboratório da UFSM, compostos do guaraná mostram ação semelhante à do resveratrol, substância presente no vinho que ativa os genes que favorecem a longevidade.
O fruto amazônico também contém antioxidantes encontrados no chá verde, como as catequinas. E ajuda a combater a obesidade, porque acelera o metabolismo.
"Estudo mostra que ingerir guaraná aumenta em até 200 calorias o gasto energético diário", diz Ivana da Cruz.
A hipótese para a grande fertilidade dos homens mais velhos de Maués também é o consumo de guaraná.
"Além de ajudar a ereção, o guaraná aumenta a quantidade e a qualidade do sêmen. Mas ainda estamos avaliando essa hipótese em laboratório", diz a bióloga.


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