São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Botox pode causar atrofia em músculo, aponta pesquisa

Universidade canadense detectou efeitos colaterais graves provocados por altas doses da toxina em uso prolongado

Em coelhos, substância afetou áreas distantes das que receberam injeções; médicos dizem que risco é muito baixo

GUILHERME GENESTRETI
MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Estudo feito na Universidade de Calgary, Canadá, sugere que o uso prolongado da toxina botulínica pode causar atrofia e perda de força muscular tanto nas regiões próximas quanto nas distantes do local da aplicação.
O levantamento, que será publicado no "Journal of Biomedics", avaliou efeitos de aplicações em 20 coelhos, divididos em quatro grupos.
O grupo submetido ao maior número de doses e por mais tempo (seis meses), apresentou maior atrofia e maior perda de força e de massa musculares.
Estudos anteriores já haviam apontado que a aplicação de botox poderia causar esses mesmos efeitos. Médicos ouvidos pela Folha afirmaram que músculos próximos ao local que recebeu a aplicação podem ser afetados, ainda que isso seja raro.
No entanto, essa é a primeira pesquisa a mostrar que os efeitos podem ocorrer em áreas do corpo distantes daquela que recebeu a injeção.
No estudo com os coelhos, foram observadas atrofia e perda da força muscular nas patas que receberam a toxina e nas que não receberam.

HUMANOS E ANIMAIS
As dosagens aplicadas na pesquisa foram similares às usadas em tratamentos terapêuticos -como em casos de espaticidade, que é uma rigidez excessiva da musculatura, sequela comum em pessoas que tiveram derrame. Essas quantidades costumam ser seis vezes maiores do que as usadas em tratamentos estéticos.
Segundo o fisioterapeuta Rafael Fortuna, autor da pesquisa, os resultados sugerem que podem ocorrer esses efeitos com o uso prolongado da toxina tanto em tratamentos terapêuticos quanto estéticos, já que a substância é a mesma, como ele diz.
Mas, segundo o pesquisador, é difícil prever que os efeitos em humanos sejam exatamente iguais aos observados em animais.
O neurologista Henrique Ballalai Ferraz, do departamento de transtornos do movimento da Academia Brasileira de Neurologia, diz que já se suspeitava da ação à distância da toxina botulínica.
Mas, segundo ele, os resultados da pesquisa só são relevantes para quem utiliza doses muito elevadas da substância, o que é incomum.
Carlos Casagrande, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, concorda.
"São feitas milhares de aplicações estéticas de botox todos os dias e não há relatos desses efeitos sistêmicos, de aplicar numa região e um músculo distante ser paralisado", diz.
Sobre as causas desse efeito, Fortuna diz que há apenas especulações. Uma é que a toxina migra de região pela corrente sanguínea.
"Como o botox é utilizado há relativamente pouco tempo [nos EUA, ele foi aprovado em 1989], há poucos estudos sobre seu uso prolongado", diz o pesquisador. Por isso, ele recomenda "cautela e bom senso" em seu uso.
Fortuna, no entanto, diz acreditar que os efeitos positivos do botox, em especial no uso terapêutico (para problemas como estrabismo, hiper-hidrose e paralisia cerebral), compensam os riscos.


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