São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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Remoção de gânglios não é eficaz em câncer de mama

Para tumor em fase inicial, retirada de nódulos das axilas é inócua, diz estudo

Procedimento doloroso é padrão há cem anos, porque acredita-se que impeça a doença de se espalhar ou voltar

DENISE GRADY
DO "NEW YORK TIMES"

Um estudo constatou que muitas mulheres com câncer de mama em estágio inicial não precisam passar pela dolorosa remoção de linfonodos cancerosos das axilas.
A descoberta coloca a prática médica padrão de ponta-cabeça. Cirurgiões vêm retirando linfonodos das axilas de pacientes há cem anos, acreditando que isso prolonga a vida e impede o câncer de se espalhar ou retornar.
Agora, pesquisadores informam que, para mulheres que se enquadram em certos critérios (20% das pacientes), a remoção de nodos cancerosos não traz vantagens.
O procedimento não muda o plano de tratamento, não aumenta as chances de sobrevivência nem reduz a probabilidade de recorrência. E pode causar complicações, como infecções e linfedema, inchaço crônico no braço que varia de leve a incapacitante.
As mulheres no estudo tinham passado por químio e radioterapia, que devem ter eliminado todo resquício da doença nos linfonodos.
Esses tratamentos hoje são padrão para câncer de mama nos linfonodos porque, quando a doença alcança os nodos, tem o potencial de espalhar-se para órgãos vitais e não pode ser eliminada apenas por meios cirúrgicos.
Alguns hospitais já estão agindo com base nas novas informações, como o Centro Memorial Sloan-Kettering de Câncer, em Nova York.
Mas mudanças em âmbito maior podem demorar porque a crença na importância da retirada dos linfonodos é profundamente arraigada.
"Essa é uma mudança tão radical no pensamento médico que muitas pessoas estão tendo dificuldade em aceitá-la", disse Monica Morrow, chefe do serviço de mastologia do Sloan-Kettering e autora do estudo publicado ontem no "Journal of the American Medical Association".

EVOLUÇÃO
A descoberta segue a tendência contrária à cirurgia radical de câncer de mama.
Os índices de realização de mastectomia (remoção da mama inteira) começaram a cair nos anos 1980. A abordagem moderna consiste na retirada de tumores evidentes e no uso de radiação e quimioterapia para erradicar a doença em outros locais.
Mas médicos continuam a pensar que até a doença microscópica nos linfonodos deve ser retirada cirurgicamente, para melhorar as chances de sobrevivência.
Os novos resultados só se aplicam às mulheres cuja doença e tratamento satisfazem os critérios do estudo.
Os tumores estavam em fase inicial. Biópsias em um ou dois nodos das axilas acusaram câncer, mas não tinham dimensões para serem sentidos em exame, e o câncer não tinha se espalhado. As mulheres tiveram os tumores removidos. A maioria recebeu radiação na mama, além de químio ou bloqueadores hormonais, ou as duas coisas.
O estudo foi feito em 115 centros médicos, com 891 pacientes de 55 anos, em média.
Foram acompanhadas por média de 6,3 anos.
Após a biópsia inicial nos linfonodos, elas foram encaminhadas aleatoriamente para a remoção de dez ou mais nodos adicionais ou para que nada fosse feito.
Não houve diferença na sobrevida dos dois grupos: mais de 90% sobreviveram por pelo menos cinco anos.
Os índices de reaparecimento de câncer também foram semelhantes, inferiores a 1%.
Mulheres como as do estudo ainda terão de passar pela retirada de pelo menos um gânglio, para averiguar a presença ou não de câncer e avaliar a necessidade ou não de mais tratamento.

Tradução de CLARA ALLAIN


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