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Admissão de erro médico faz cair o nº de processos
Nos EUA, plano que incentiva equipes de saúde a assumir falhas dá resultados
Em Michigan, nova atitude reduziu ações e pedidos de indenização, diz médico de Harvard e autor do estudo
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Imagine um lugar em que
o médico, ao cometer um erro, o admita ao paciente ou à
família, explique como aconteceu e quais as medidas tomadas para evitar que se repita no futuro. E, que, por
fim, ofereça uma compensação financeira pelos danos.
Não é a ilha da fantasia.
Desde 2001, o Sistema de
Saúde da Universidade de
Michigan (EUA) desenvolve
um programa de incentivo
aos trabalhadores da área de saúde para relatar seus erros.
Ao contrário do que se temia, o ato de admitir as falhas levou a uma redução do
número de ações judiciais e
pedidos de indenização. A resolução dos conflitos foi mais
rápida e houve diminuição
dos custos jurídicos em geral.
Os resultados do programa foram publicados em um
estudo no renomado periódico "Annals of Internal Medicine" e causou surpresa no meio médico-hospitalar.
"Médicos e gestores têm
receio que o ato de admitir a culpa motive mais processos.
Por isso, tendem a esconder
os erros", diz o autor do estudo, Allen Kachalia, professor-assistente de medicina
da Harvard Medical School.
Foram analisados os registros de 1.131 reclamações de
erro médico ou pedidos de
indenização por falha médica, entre 1995 e 2007.
Depois que os médicos
passaram a admitir os erros,
pedir desculpas e oferecer
compensação, a média mensal de reclamações caiu 36%:
de 7 para 100 mil pacientes atendidos para 4,52.
A média mensal de processos judiciais movidos contra
o hospital também caiu: de
2,13 a cada 100 mil pacientes
para 0,75.
O tempo médio para a resolução desses conflitos foi
reduzido e os custos médios
dos processos e da indenização diminuíram até 60%. A
seguir, trechos da entrevista
exclusiva de Kachalia à Folha, por telefone.
Folha - Por que a Universidade de Michigan decidiu criar
o programa?
Allen Kachalia - Porque era
a coisa mais certa a ser feita.
Eles decidiram que, quando
há um erro médico, é preciso
ser ético, admitir a falha, pedir desculpas e compensar o
paciente financeiramente se
for o caso. Foi uma grata surpresa quando os números
também mostraram que essa
foi a decisão mais acertada.
Qual foi a reação dos médicos
e dos outros profissionais de
saúde quando o programa começou?
Eles tiveram bastante resistência. Não sabiam o que
poderia acontecer a partir do
momento em que passassem
a admitir seus erros. Tinham
medo de punições. Muitos
acreditam que se admitirmos
os erros, os delitos e a má reputação irão se sobrepor às
ações realizadas corretamente. Os médicos e os gestores
têm receio que o ato de admitir a culpa motive mais processos judiciais. Por isso, tendem a esconder os erros.
Na sua opinião, por que é tão
difícil para os médicos admitir seus erros?
Penso que seja difícil não
só para os médicos, mas para
as pessoas de uma forma geral. Mas eu não tenho dúvidas de que quando admitimos nossos erros, podemos
prevenir outros no futuro.
Começar a falar dos nossos
erros faz com que outras pessoas aprendam com eles e
deixem de cometê-los. Uma
atitude mais transparente e
sincera também pode construir uma relação melhor, de
mais confiança, entre médicos e seus pacientes.
Você acredita que esse tipo
de programa pode funcionar
em outros países, no Brasil,
por exemplo?
Sim, ele pode funcionar
também em outros países.
Talvez outros países não estejam tão preocupados com
essa questão porque não têm
tantas ações judiciais como
os Estados Unidos. O importante é que as pessoas admitam seus erros não para que
as instituições ou empresas
economizem dinheiro, mas
sim porque é a coisa mais certa a se fazer. Além de Michigan, as universidades de Illinois e de Washington também estão replicando o mesmo tipo de programa.
AÇÕES CONTRA MÉDICOS CRESCERAM
155%
entre 2002 e 2008 no Superior Tribunal de Justiça
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