São Paulo, terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Tratamento com eletrodos cura crianças que urinam na roupa

Estudo mostrou que eletroterapia auxilia pacientes com bexiga hiperativa

CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA

Um novo tratamento com eletroterapia conseguiu curar mais de 60% dos casos de crianças com bexiga hiperativa (quando não têm controle do esfíncter e fazem xixi na roupa). Os benefícios da técnica a longo prazo foram demonstrados em um estudo brasileiro randomizado (controlado), o primeiro da literatura médica.
Estima-se que 15% das crianças acima de cinco anos sofram do problema, conhecido como enurese diurna, sendo que metade delas também faz xixi na cama (enurese noturna). Normalmente, a hiperatividade da bexiga é tratada com medicação oral, mas ela tem efeitos colaterais, como boca seca e constipação -o que leva cerca de 10% das crianças a suspender o remédio. A taxa de cura com a droga é de 30%.
A eletroterapia consiste em estimular com eletrodos a região sacral (nas costas, entre a região lombar e o início das nádegas) da criança. O procedimento é indolor - a sensação é de um leve formigamento. Essa corrente elétrica estimula áreas do cérebro responsáveis pelo reconhecimento da bexiga cheia e do estímulo para urinar. Com as estimulações, a criança passa a ter a capacidade de inibir o reflexo miccional, deixando de fazer xixi na calça.
"Muitos pais pensam que a criança tem preguiça de ir ao banheiro. Mas, se o filho passou dos cinco anos e fica pegando no pintinho ou, no caso da menina, se espreme ou aperta a vagina, isso é um sinal de que eles estão segurando a urina por conta de uma contração involuntária da bexiga", explica o urologista pediátrico Ubirajara Barroso Júnior, professor da Escola Bahiana de Medicina, autor do estudo.
O trabalho foi apresentado ontem no Congresso Brasileiro de Urologia e será publicado na revista "Journal of Urology". Ao menos seis centros médicos no país, entre eles um ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), já estão utilizando a técnica. "É um procedimento ainda novo, mas muito promissor para as crianças que perdem xixi durante o dia", afirma urologista pediátrico Antonio Macedo Junior, professor da Unifesp.
Barroso Júnior explica que o mecanismo da enurese diurna é diferente do da noturna. Quando faz xixi na cama, ou a criança não acorda ou tem diminuição de um hormônio antidiurético que absorve a água dos rins. Se a criança tem deficit desse hormônio, ela produz mais urina à noite.
Já na enurese diurna, existe uma contração involuntária da bexiga. Muitas crianças se curam espontaneamente com o tempo. A questão é o custo emocional da disfunção. "As crianças ficam mais inibidas ou mais agressivas", afirma Barroso Junior. A contração involuntária da bexiga também é uma das principais causas de infecção urinária em crianças. O estudo baiano acompanhou 49 crianças por três anos.
"É fantástico, o primeiro com rigor cientifico a mostrar o benefício da eletroterapia. Será uma referencia mundial", diz o belga Piet Hoebeke, chefe do Departamento de Uropediatria da Ghent University Hospital.

A jornalista Cláudia Collucci viajou a Goiânia a convite da Sociedade Brasileira de Urologia



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