|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Tratamento com eletrodos cura crianças que urinam na roupa
Estudo mostrou que eletroterapia auxilia pacientes com bexiga hiperativa
CLÁUDIA COLLUCCI
ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA
Um novo tratamento com
eletroterapia conseguiu curar
mais de 60% dos casos de crianças com bexiga hiperativa
(quando não têm controle do
esfíncter e fazem xixi na roupa). Os benefícios da técnica a
longo prazo foram demonstrados em um estudo brasileiro
randomizado (controlado), o
primeiro da literatura médica.
Estima-se que 15% das crianças acima de cinco anos sofram
do problema, conhecido como
enurese diurna, sendo que metade delas também faz xixi na
cama (enurese noturna).
Normalmente, a hiperatividade da bexiga é tratada com
medicação oral, mas ela tem
efeitos colaterais, como boca
seca e constipação -o que leva
cerca de 10% das crianças a suspender o remédio. A taxa de cura com a droga é de 30%.
A eletroterapia consiste em
estimular com eletrodos a região sacral (nas costas, entre a
região lombar e o início das nádegas) da criança. O procedimento é indolor - a sensação é
de um leve formigamento.
Essa corrente elétrica estimula áreas do cérebro responsáveis pelo reconhecimento da
bexiga cheia e do estímulo para
urinar. Com as estimulações, a
criança passa a ter a capacidade
de inibir o reflexo miccional,
deixando de fazer xixi na calça.
"Muitos pais pensam que a
criança tem preguiça de ir ao
banheiro. Mas, se o filho passou
dos cinco anos e fica pegando
no pintinho ou, no caso da menina, se espreme ou aperta a vagina, isso é um sinal de que eles
estão segurando a urina por
conta de uma contração involuntária da bexiga", explica o
urologista pediátrico Ubirajara
Barroso Júnior, professor da
Escola Bahiana de Medicina,
autor do estudo.
O trabalho foi apresentado
ontem no Congresso Brasileiro
de Urologia e será publicado na
revista "Journal of Urology".
Ao menos seis centros médicos no país, entre eles um ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), já estão utilizando a técnica. "É um procedimento ainda novo, mas muito promissor para as crianças
que perdem xixi durante o dia",
afirma urologista pediátrico
Antonio Macedo Junior, professor da Unifesp.
Barroso Júnior explica que o
mecanismo da enurese diurna
é diferente do da noturna.
Quando faz xixi na cama, ou a
criança não acorda ou tem diminuição de um hormônio antidiurético que absorve a água
dos rins. Se a criança tem deficit desse hormônio, ela produz
mais urina à noite.
Já na enurese diurna, existe
uma contração involuntária da
bexiga. Muitas crianças se curam espontaneamente com o
tempo. A questão é o custo
emocional da disfunção. "As
crianças ficam mais inibidas ou
mais agressivas", afirma Barroso Junior. A contração involuntária da bexiga também é uma
das principais causas de infecção urinária em crianças.
O estudo baiano acompanhou 49 crianças por três anos.
"É fantástico, o primeiro com
rigor cientifico a mostrar o benefício da eletroterapia. Será
uma referencia mundial", diz o
belga Piet Hoebeke, chefe do
Departamento de Uropediatria
da Ghent University Hospital.
A jornalista Cláudia Collucci viajou a Goiânia a
convite da Sociedade Brasileira de Urologia
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|