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Remédios são 1/3 dos gastos com saúde
Segundo levantamento inédito do IBGE, famílias brasileiras gastaram R$ 44,8 bilhões com medicamentos em 2007
Para especialistas, gasto é alto e aponta para consumo excessivo de medicamento; somando compras públicas, total chega a 1,9% do PIB
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
O brasileiro gasta muito com
remédio, sinal de consumo excessivo. A despesa das famílias
brasileiras com medicamentos
foi de R$ 44,8 bilhões em 2007.
O número equivale a mais de
um terço dos desembolsos totais das famílias com saúde, de
R$ 128,8 bilhões naquele ano, e
está próximo dos R$ 46,1 bilhões gastos com consultas médicas, exames diagnósticos e
outros serviços não hospitalares, que canalizaram a maior
parte dos recursos.
Os dados constam da "Conta-satélite de Saúde", divulgada
ontem, pela primeira vez, pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). O nome da pesquisa vem da análise
de números que normalmente
circundam em torno do PIB
(Produto Interno Bruto, soma
de riquezas produzidas pelo
país), sem que sejam destacados. O documento contempla
os anos de 2005 a 2007 e mostra que o peso dos gastos com
medicamentos nas despesas
com saúde das famílias brasileiras está em torno de 35%.
A pesquisadora Maria Angélica Borges de Santos, da Fiocruz (Fundação Oswaldo
Cruz), avalia que o alto peso dos
medicamentos nos gastos com
saúde das famílias indica que o
brasileiro está consumindo
muito remédio. Considerando-se também as compras públicas, o total gasto com esses produtos em 2007 correspondeu a
1,9% do PIB. Segundo a pesquisadora, nos países desenvolvidos essa proporção não costuma passar de 1,4%. O número
leva em conta apenas os medicamentos comprados para uso
em casa -os consumidos em
hospitais e as vacinas foram
contabilizados como gastos
com serviços de saúde.
A coordenadora-geral de
programas e projetos em economia da saúde do Ministério
da Saúde, Fabíola Vieira, atribui a diferença entre os gastos
das famílias e os dos governos a
dois fatores. De um lado, pesa o
"subfinanciamento" do setor
público, que gasta mais em serviços do que em remédio; de
outro, o "uso irracional" de medicamentos comprados em farmácias privadas.
Em 2007, as famílias gastaram quase dez vezes mais com
remédios do que o governo. A
diferença foi a principal responsável pelo desequilíbrio no
financiamento do setor -a administração pública gastou
com compras R$ 4,7 bilhões em
remédios para distribuição gratuita de sua despesa total em
saúde, de R$ 93,4 bilhões.
"Dentro do gasto do governo,
os medicamentos são dispensados mediante uma prescrição
médica. No consumo das famílias, há muitos medicamentos
consumidos sem apresentação
de prescrição médica, principalmente os remédios de venda
livre, que a população consome
de forma excessiva", diz Vieira.
Atualmente, a política de distribuição gratuita de remédios
do Ministério da Saúde contempla principalmente pacientes de doenças que exigem tratamento continuado, como
Aids, diabetes, hipertensão e
tuberculose. De acordo com o
secretário-executivo substituto do Ministério da Saúde, Luiz
Fernando Beskow, o programa
tem sido ampliado e recebeu
aporte de R$ 5,4 bilhões em
2009, o dobro do ano anterior.
O governo federal responde pela maior parte dos gastos públicos com medicamentos.
Em 2005, o montante gasto
com medicamentos superou
aquele destinado aos serviços
não hospitalares, que, nos dois
anos seguintes, assumiram a liderança no orçamento. Segundo a pesquisadora Maria Angélica Borges de Santos, as despesas não hospitalares crescem
devido à migração de muitos
procedimentos antes realizados em hospitais para centros
de exames e diagnósticos cada
vez mais modernos e caros.
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