São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

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ANÁLISE

"Guerra" de estudos ganhou munição na última década

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

Quando um estudo sobre os efeitos da maconha é publicado, só há uma certeza: suas conclusões levarão pancada até que sirvam como argumento a favor ou contra a legalização da substância.
O estudo que aponta relação entre maconha e surgimento precoce de esquizofrenia, é só mais um que vai se unir aos últimos trabalhos publicados e adotados pelos que querem atacar a cânabis.
A lista é longa: maconha eleva o risco de o sujeito desenvolver desde a óbvia perda de memória até depressão e deficiência cardiovascular.
Após levar esses estudos científicos na cabeça, os defensores da maconha reagem com a sua infantaria: pesquisas que mostram os efeitos benéficos da erva contra dor crônica, ansiedade, náusea e perda de peso, entre outras.
Não é raro que as mesmas equipes de cientistas publiquem um "paper" com gosto de "legalize já" em um dia e outro com jeito de "erva do demônio" pouco depois.
Demonstração de que os grupos favoráveis e contrários à legalização têm dificuldade para perceber isso aconteceu nesta própria Folha, no ano passado.
Dois grupos de pesquisadores com posições muito opostas sobre a legalização da erva trocaram artigos se acusando. A questão é que ambos defendiam os seus pontos de vista citando exatamente a mesma referência científica: as conclusões do pesquisador Robin Room, da Universidade de Melbourne, publicadas em 2008.
Ele revisou centenas de estudos sobre a erva, a maioria divulgada após 2000. Como a década que passou trouxe muitos trabalhos sobre o tema, a guerra de artigos científicos ganhou combustível.
É provável que os estudos sigam sendo mal usados no debate sobre maconha, que não deveria se limitar ao diálogo de quem grita "tenho um paper" e de quem responde "mas tenho outro!".


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