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Cérebro luta contra o fim do amor
Professor de neurologia explica por que é tão difícil esquecer um relacionamento e dá até receitinha para fazer a fila andar
DÉBORA MISMETTI
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO (RS)
O amor já era, mas o frio na
barriga continua. Mais forte
que o desejo de esquecer é a
sensação física que volta no
fim: coração a mil, adrenalina, borboletas no estômago.
Para superar isso, os médicos indicam: deve-se reforçar
as emoções negativas ligadas à pessoa e mudar o foco.
É, arrumar outro amor.
"Do ponto de vista cerebral,
ficar só não ajuda a superar
[o fim do caso]", diz o neurologista Antoine Bechara, da
Universidade de Iowa (EUA).
Parte da dificuldade, segundo Bechara, é que essa situação gera um conflito cerebral. Mesmo que o amor já tenha ido para o brejo e que as
lembranças negativas estejam presentes, há uma impressão -nada a ver com as
memórias guardadas no cérebro- que dispara aquelas
reações corporais lá do alto.
Ele explica que no circuito
neural há dois sistemas. Um
deles passa pela amígdala, é
responsável por respostas
corporais involuntárias, como bolhinhas no estômago.
O outro sistema passa pelo
córtex pré-frontal, região que
traz à tona as lembranças do
ex, mesmo que a pessoa não
faça mais parte da sua vida.
"Seu amor pode ter azedado, mas o cérebro continua a
mandar os estímulos [que
causam reações físicas] ainda que ele tenha as lembranças ruins do relacionamento.
As impressões formadas no
namoro ficam no cérebro."
As próprias reações físicas
também podem ser interpretadas como uma forma de
sentimento, o que realimenta
o circuito. "A reação seria suficiente para configurar um
sentimento? Não é necessário o objeto daquele sentimento estar presente?".
As impressões residuais e
essas reações físicas "sequestram" os pensamentos.
Não precisam da nossa intenção para aparecer, o que dificulta a mudança de foco.
Mesmo quando não se está
pensando na pessoa de propósito, o sentimento volta e
toma o corpo de assalto.
Por isso também é que o
tempo pode não dar conta do
recado, ao menos do ponto
de vista neurológico. "Não
apaga. Esse sentimento é
próximo ao dos vícios", diz.
Se o ex está por perto, então, é pior. Como para o alcoólatra, basta um deslize
para que aconteça a recaída.
O neurologista André Palmini, da PUC-RS, lembra que
essas reações são similares
às do começo do amor. "É sinal de que há uma ameaça."
As borboletas no estômago fazem uma curva durante
o namoro, diz Palmini: surgem no início, declinam no
meio e voltam no final.
A jornalista DÉBORA MISMETTI viajou a
convite do congresso
Leia mais sobre o
congresso Cérebro,
Comportamento e
Emoções em
folha.com.br/eq749035
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