São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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Grávidas em pânico

Novo livro satiriza pavor de gestantes diante de riscos reais ou imaginários; especialistas afirmam que grupo das tensas cresceu e esclarecem mitos

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

Os cuidados com a saúde desde o útero estão ocupando cada vez mais as páginas das principais de pesquisa médica. O peso da mãe, o ambiente em que ela vive, se fala no celular, se pinta o cabelo, se dorme do lado esquerdo ou direito: tudo isso já foi alvo de estudos publicados nos últimos meses.
Essa fixação com a vida do bebê dentro do útero encontra terreno fértil nas preocupações das mães, especialmente as de primeira viagem e adeptas do "Dr. Google".
"As gestantes fazem suas pesquisas e chegam ao consultório com uma lista de dúvidas. Em geral, preocupam-se com nutrição e hábitos que podem causar risco ao bebê, se o excesso disso ou a falta daquilo traz problema", diz o obstetra Denis Nascimento, presidente da Comissão de Gestão de Alto Risco da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).
A tensão das grávidas por causa do excesso de informações levou as escritoras americanas Alice Bradley e Eden M. Kennedy, donas de blogs sobre maternidade, a lançarem recentemente nos EUA o livro "Let's Panic about Babies" ("Vamos entrar em pânico sobre bebês").

ADORÁVEL TIRANO
O tom da obra pode ser notado pelo subtítulo: "Como resistir e possivelmente triunfar sobre o adorável tirano que vai acabar com o seu corpo, destruir sua vida, liquidar o seu cérebro e finalmente transformar você em um ser humano que vale a pena". Irônico e bem-humorado, o livro parodia os manuais "sérios" de gestação e brinca com os novos medos.
Sugere, por exemplo, que, no início da gravidez, as mães evitem fazer "exames de raio-X recreativos". Nem todas as grávidas entram em pânico, é claro. De acordo com o obstetra Guilherme Loureiro Fernandes, chefe de medicina fetal da Maternidade Pro Matre Paulista, esse quadro de tensão é mais comum em mulheres que sofrem algum tipo de pressão familiar, não estão muito bem com os parceiros ou têm histórico de abortos.
"Há quem pergunte se pode viajar para a praia porque acha que corre o risco de perder o bebê só de descer a serra", afirma. "A mãe de primeira viagem lê de tudo, inclusive bobagens.
" Nascimento diz que as mães mais apreensivas são as que engravidam tarde. Como cada vez mais mulheres estão engravidando pela primeira vez depois dos 40, a turma das tensas (às vezes com razão) está crescendo.
"Elas se preocupam com risco de malformações, hipertensão, diabetes, prematuridade do bebê, e por aí vai." Fernandes conta que quedas são comuns em grávidas, mas, em vez de tomar um anti-inflamatório como praxe, é preciso consultar o médico, porque alguns remédios podem reduzir a quantidade de líquido amniótico.
"Quanto aos analgésicos, não é preciso evitá-los. Pode usar paracetamol e dipirona. O problema é o uso crônico", explica Nascimento. Já a tradicional dúvida sobre tintura no cabelo continua sem resposta definitiva. Leandra Metsavaht, da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia, afirma já ter lido estudos feitos em ratas falando de problemas causados pela tintura, como abortos espontâneos.
"Mas não dá para estabelecer relação causal. Eu recomendo não usar. Há, porém, obstetras que liberam a partir do segundo trimestre", diz.


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