São Paulo, sábado, 12 de junho de 2010

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Cirurgia que reduz estômago é ligada a falhas neurológicas

Operação para perda de peso, em alta no Brasil, pode causar desde formigamentos até amnésia e demência

Má absorção de vitaminas é a grande causa das alterações, que são reversíveis, na maioria dos casos

DÉBORA MISMETTI ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO (RS)

A cirurgia que reduz o volume do estômago pode levar a distúrbios neurológicos semelhantes aos encontrados em pessoas desnutridas.
Em 2009, 30 mil cirurgias bariátricas foram feitas no país. Em três anos, esse número aumentou 10%.
Segundo um estudo do departamento de neurologia da Universidade de Ohio, até 16% das pessoas que fazem a cirurgia têm alguma complicação neurológica.
A principal causa é a falha na absorção de nutrientes essenciais ao funcionamento dos neurônios. A falta pode causar de incômodos reversíveis a lesões permanentes.
A maioria dessas complicações não é grave, diz o neurologista Eduardo Mutarelli, professor da Faculdade de Medicina da USP. "Podem ocorrer falta de sensibilidade, formigamentos, dor no pé. Demência e amnésia são os quadros graves e raros."
Algumas doenças aparecem semanas após a operação. É o caso da encefalopatia de Wernicke que, sem tratamento, pode evoluir para a síndrome de Korsakoff.
É uma lesão do encéfalo que causa amnésia e psicose. No início, é reversível com reposição de vitamina B1.
Outros problemas demoram anos para surgir, como degenerações de medula. Os sinais são fraqueza, perda de sensibilidade, mudança de humor. O tratamento é com ácido fólico, cobre e B12.
"Às vezes, é preciso até reverter a cirurgia, porque os problemas superam as vantagens", afirmou o médico.
O psiquiatra Adriano Segal, direto da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), conta que a maioria dos casos que já tratou só atingiram o sistema nervoso periférico.
Mas uma paciente sua ficou com limitações para andar. "É muito raro. Só tive três casos de síndrome de Korsakoff. Se o risco fosse alto, a cirurgia seria um crime."
A prevenção é simples: a pessoa operada tem que tomar suplementos e ser acompanhada pelo resto da vida.
A equipe responsável pela cirurgia também precisa orientar o paciente e a família. "Devem saber reconhecer os sinais, porque é preciso diagnosticar e tratar imediatamente", diz o psiquiatra.
Para o neurologista Eduardo Mutarelli, é preciso esclarecer o público sobre esses riscos. "Há pessoas que até engordam mais para poder se candidatar à cirurgia. Vamos ver cada vez mais essas complicações neurológicas."


A jornalista DÉBORA MISMETTI viajou a convite do congresso

Folha.com

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