São Paulo, sábado, 13 de março de 2010

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Trauma dentário não é tratado

Estudo foi feito com crianças; para autor, pais acreditam que a fratura não traz grandes problemas

Mesmo quando o dente é de leite, em casos mais graves o permanente, que está em formação, também pode ser afetado e até perdido

RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um estudo realizado pela Faculdade de Odontologia da USP revelou que mais de 90% dos traumas dentários sofridos por crianças em idade pré-escolar não passam por nenhum tipo de tratamento.
Segundo Marcelo Böenecker, orientador da pesquisa, os pais não procuram o dentista porque acreditam, equivocadamente, que a fratura não traz grandes consequências.
"Mas o trauma não tratado afeta a aparência, a habilidade para comer e falar apropriadamente e o bem-estar psicossocial, além de poder causar sequelas biológicas", afirma.
Os pesquisadores examinaram mais de 3.200 crianças, de cinco meses a cinco anos de idade, em Diadema (Grande São Paulo). Em 2002, 9,4% delas tinham sofrido algum trauma dentário. Dois anos depois, eram 12,9%, e, em 2006, 13,9%.
Para a consultora em odontopediatria da Associação Brasileira de Odontologia Márcia Vasconcelos, quando o trauma é pequeno, os pais costumam postergar a visita ao dentista e acabam se esquecendo depois -o que não poderia ocorrer.
"Qualquer trauma é motivo para ir ao dentista, porque mesmo os mais leves podem machucar a língua, o lábio. E os mais graves devem ser vistos [pelo dentista] imediatamente, pois o sucesso do tratamento depende do tempo entre a ocorrência e o atendimento", afirma a dentista.
Dependendo do impacto, o dente pode quebrar, deslocar ou ser expulso da boca. Em casos mais graves, o dente permanente, que está em formação nessa idade, também pode ser afetado e até perdido.
A fratura mais frequente, no entanto, ocorre no esmalte e, às vezes, também na dentina (camada abaixo do esmalte). Nesses casos, a restauração é um processo simples.
Fatores anatômicos -como sobressaliência dos dentes (quando os superiores estão deslocados para a frente), sobremordida (quando os dentes de cima escondem os inferiores) e lábio curto, que não cobre os dentes- foram significativamente associados ao problema, assim como fatores individuais, como pé plano (ou pé chato), obesidade e baixa visão, que prejudicam o equilíbrio.
Segundo Böenecker, há muita informação sobre cárie, mas pouca sobre trauma dentário. "Os pais não sabem que ele pode ser prevenido", diz.
O cirurgião-dentista Márcio Moraes, coordenador do curso de pós-graduação em cirurgia bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, da Unicamp, coleta desde 1999 dados sobre a ocorrência de traumas dentários nas Santas Casas de Rio Claro e de Limeira, no interior de São Paulo.
De acordo com ele, a incidência do problema vem aumentando nos últimos anos entre pessoas com mais de 18 anos -e os maiores culpados são a agressão física e os acidentes motociclísticos.
"Já entre crianças de até seis anos de idade, o número subiu e depois desceu. Para essa faixa etária, pode ser coincidência ter havido mais quedas em determinado período do que em outro", afirma.


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