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Trauma dentário não é tratado
Estudo foi feito com crianças; para autor, pais acreditam que a fratura não traz grandes problemas
Mesmo quando o dente é de leite, em casos mais graves o permanente, que está em formação, também pode ser afetado e até perdido
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo realizado pela Faculdade de Odontologia da USP
revelou que mais de 90% dos
traumas dentários sofridos por
crianças em idade pré-escolar
não passam por nenhum tipo
de tratamento.
Segundo Marcelo Böenecker, orientador da pesquisa, os
pais não procuram o dentista
porque acreditam, equivocadamente, que a fratura não traz
grandes consequências.
"Mas o trauma não tratado
afeta a aparência, a habilidade
para comer e falar apropriadamente e o bem-estar psicossocial, além de poder causar sequelas biológicas", afirma.
Os pesquisadores examinaram mais de 3.200 crianças, de
cinco meses a cinco anos de
idade, em Diadema (Grande
São Paulo). Em 2002, 9,4% delas tinham sofrido algum trauma dentário. Dois anos depois,
eram 12,9%, e, em 2006, 13,9%.
Para a consultora em odontopediatria da Associação Brasileira de Odontologia Márcia
Vasconcelos, quando o trauma
é pequeno, os pais costumam
postergar a visita ao dentista e
acabam se esquecendo depois
-o que não poderia ocorrer.
"Qualquer trauma é motivo
para ir ao dentista, porque mesmo os mais leves podem machucar a língua, o lábio. E os
mais graves devem ser vistos
[pelo dentista] imediatamente,
pois o sucesso do tratamento
depende do tempo entre a
ocorrência e o atendimento",
afirma a dentista.
Dependendo do impacto, o
dente pode quebrar, deslocar
ou ser expulso da boca. Em casos mais graves, o dente permanente, que está em formação
nessa idade, também pode ser
afetado e até perdido.
A fratura mais frequente, no
entanto, ocorre no esmalte e, às
vezes, também na dentina (camada abaixo do esmalte). Nesses casos, a restauração é um
processo simples.
Fatores anatômicos -como
sobressaliência dos dentes
(quando os superiores estão
deslocados para a frente), sobremordida (quando os dentes
de cima escondem os inferiores) e lábio curto, que não cobre
os dentes- foram significativamente associados ao problema,
assim como fatores individuais,
como pé plano (ou pé chato),
obesidade e baixa visão, que
prejudicam o equilíbrio.
Segundo Böenecker, há muita informação sobre cárie, mas
pouca sobre trauma dentário.
"Os pais não sabem que ele pode ser prevenido", diz.
O cirurgião-dentista Márcio
Moraes, coordenador do curso
de pós-graduação em cirurgia
bucomaxilofacial da Faculdade
de Odontologia de Piracicaba,
da Unicamp, coleta desde 1999
dados sobre a ocorrência de
traumas dentários nas Santas
Casas de Rio Claro e de Limeira, no interior de São Paulo.
De acordo com ele, a incidência do problema vem aumentando nos últimos anos entre
pessoas com mais de 18 anos
-e os maiores culpados são a
agressão física e os acidentes
motociclísticos.
"Já entre crianças de até seis
anos de idade, o número subiu e
depois desceu. Para essa faixa
etária, pode ser coincidência
ter havido mais quedas em determinado período do que em
outro", afirma.
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