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Antipsicóticos fazem doente de Alzheimer viver menos
Estudo inglês revela que a taxa de mortalidade pode dobrar após dois anos de terapia
Autor da pesquisa reforça
a necessidade de utilizar terapias menos nocivas para conter sintomas agressivos dos portadores da doença
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Drogas antipsicóticas muito
usadas para tratar distúrbios de
comportamento de pacientes
com Alzheimer podem dobrar
a taxa de mortalidade de idosos,
após dois ou três anos de tratamento, revela um estudo publicado na revista médica "The
Lancet Neurology".
Os antipsicóticos -também
conhecidos como neurolépticos- são utilizados para tratar,
principalmente, os sintomas de
agitação, irritabilidade, agressão e alucinação que podem
acometer os portadores da
doença de Alzheimer. A estimativa é que 6% dos 15 milhões
de pessoas com mais de 60 anos
sofram da doença no Brasil.
Estudos anteriores já demonstraram os benefícios no
curto prazo (de 6 a 12 semanas)
do tratamento antipsicótico
para os sintomas neuropsiquiátricos do Alzheimer, mas também revelaram um aumento
dos efeitos adversos, como infecções pulmonares, sonolência e hemiplegias (paralisias
que impedem movimentos de
um dos lados do corpo).
Para os autores do estudo
-médicos do King's College,
em Londres-, os dados sobre a
mortalidade reforçam a necessidade de empregar tratamentos menos nocivos, como terapias psicológicas, para controlar os sintomas neuropsiquiátricos dos doentes de Alzheimer. Já especialistas brasileiros avaliam que as drogas,
quando bem empregadas, são
benéficas aos pacientes.
Polêmica
Segundo Clive Ballard, médico do Centro Wolfson para as
Doenças Relacionadas com a
Idade do King's College, que
coordenou o estudo, embora as
diretrizes de sociedades médicas internacionais recomendem que as drogas sejam ministradas de forma temporária,
60% dos pacientes com demência, internados em asilos dos
EUA e do Reino Unido, recebem esses remédios por períodos superiores a um ano.
"A questão é: eu tomaria uma
droga que reduzisse ligeiramente minha agressão, mas,
em compensação, dobrasse
meu risco de morte? Não estou
certo de que aceitaria isso", diz.
Para o neurologista Rubens
Gagliardi, professor da faculdade de medicina da Santa Casa, o
uso de antipsicóticos traz boa
contribuição para os doentes
de Alzheimer com distúrbios
psíquicos. "Essas drogas têm
um bom índice de segurança,
desde que empregadas com
cuidado e muito bem selecionadas, objetivando o tipo de
doente, as suas comorbidades e
os sintomas", explica.
Segundo o geriatra Luiz Roberto Ramos, diretor do Centro
de Estudos do Envelhecimento
da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), há uma
grande discussão sobre os efeitos de "travação" que os neurolépticos podem causar aos idosos, principalmente os medicamentos mais antigos.
"A gente sabe que eles causam efeitos adversos, especialmente pela falta de mobilidade
do idoso. Mas a gente fica entre
a cruz e a caldeirinha. Temos
idosos muito agitados e drogas
que cumprem a função de acalmá-los, mas aumentam os riscos de outras coisas", diz.
Estudos
O estudo inglês, realizado entre 2001 e 2004, envolveu pacientes entre 67 e 100 anos que
recebiam antipsicóticos, como
a tioridazina, a clorpromazina,
o haloperidol, a trifuorperazina
ou a risperidona -remédios
também utilizados no Brasil.
Durante a pesquisa, alguns
desses pacientes continuaram
sendo tratados com as medicações, enquanto os outros passaram a receber um placebo oral.
Foram selecionados aleatoriamente 165 pacientes, 128 dos
quais receberam tratamento:
64 a base de antipsicóticos e
outros 64, com placebos.
Após 12 meses, o índice de sobrevivência entre os do primeiro grupo era de 70%, contra
77% entre os que tomavam placebo. Porém, dois anos depois,
a sobrevivência dos doentes
que recebiam antipsicóticos
era de 46%, contra 71% no grupo do placebo.
Depois de três anos, a diferença era ainda maior: 30% que
recebiam antipsicóticos continuavam vivos, contra 59% entre os que tomavam placebo. A
maior parte das mortes ocorreu por problemas pulmonares, um dos efeitos das drogas.
Na avaliação de Clive Ballard,
"terapias psicológicas podem
substituir o tratamento antipsicótico sem que piorem de
modo considerável os sintomas
neuropsiquiátricos".
Para o neurologista Rubens
Gagliardi, são necessários mais
estudos, com uma casuística
maior de pacientes e com mais
tempo de seguimento, para que
as recomendações sobre os antipsicóticos sejam mudadas.
Em 2006, outro estudo financiado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA,
publicado no "New England
Journal of Medicine", também
concluiu que os efeitos terapêuticos dos antipsicóticos dados aos doentes de Alzheimer
eram anulados pela severidade
das reações adversas.
Segundo o médico que coordenou o estudo, Lon Schneider,
da Universidade da Califórnia
do Sul, embora antipsicóticos
sejam eficazes no controle dos
sintomas agressivos, muitos
pacientes pararam a terapia
por causa dos efeitos colaterais.
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