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Exame do cérebro aponta melhor droga para tratar depressão
Quase 50% dos pacientes em tratamento não apresentam resposta satisfatória ao primeiro medicamento prescrito
Hoje, os médicos levam de quatro a seis semanas para identificar que determinado remédio não surtiu efeito,
o que atrasa o tratamento
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores da Universidade da Califórnia identificaram um possível biomarcador
que é capaz de mostrar, depois
de uma semana, se determinada droga antidepressiva apresenta resultados no paciente.
Atualmente, quase 50% dos
doentes não apresentam resposta satisfatória ao primeiro
medicamento prescrito.
Além disso, os médicos demoram de quatro a seis semanas para identificar que determinado remédio não surtiu
efeito -o que atrasa o tratamento, pois a avaliação clínica
dos resultados só é realizada
após esse período. Por causa
disso, muitos pacientes abandonam o tratamento.
Outro fator de demora na
identificação do melhor tratamento é a quantidade de drogas
disponíveis. Hoje, são comercializados cerca de 30 compostos diferentes de antidepressivos, o que dificulta a escolha.
Estima-se que 17% da população adulta vá enfrentar um
episódio de depressão pelo menos uma vez na vida. Encontrar
um biomarcador de resposta ao
tratamento é o principal objetivo dos psiquiatras.
Segundo os pesquisadores, a
avaliação de qual medicamento
vai funcionar em determinado
paciente seria possível através
da realização de um eletroencefalograma quantitativo (mapeamento da atividade cerebral) antes e depois do início do
uso da medicação. Trata-se de
um exame não-invasivo, realizado em cerca de 15 minutos.
Para chegar aos resultados,
publicados na "Psychiatry Research", os cientistas avaliaram
375 pacientes diagnosticados
com depressão. Os voluntários
fizeram o eletro antes de iniciar
o tratamento, para os pesquisadores avaliarem o padrão das
ondas cerebrais, e repetiram o
exame uma semana depois.
No segundo exame, os pesquisadores observaram mudanças nos padrões das ondas
cerebrais em comparação com
o eletro de base e identificaram
um biomarcador chamado de
índice de resposta ao tratamento antidepressivo (ATR).
Depois de 49 dias, os cientistas perceberam que podiam
prever se os voluntários estavam mais propensos a responder a um antidepressivo diferente, pois encontraram 74%
de exatidão nas previsões.
"Os resultados são um marco
em nossos esforços para desenvolver biomarcadores clinicamente úteis", disse Andrew
Leuchter, autor do estudo.
Para o psiquiatra Ricardo
Moreno, coordenador do Programa de Transtornos Afetivos
do Instituto de Psiquiatria da
USP, os resultados são interessantes, mas ainda precisam ser
replicados em outros centros.
"Encontrar biomarcadores
de resposta é o sonho de todos
os centros de pesquisa do mundo. Se esses resultados forem
comprovados, trarão um benefício muito grande para os pacientes", avalia Moreno.
A mesma opinião tem o psiquiatra Marco Antônio Brasil,
do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Psiquiatria. "O tempo de espera para
saber se um remédio está fazendo efeito é muito grande e
desgastante para o paciente. No
futuro, esse recurso poderá ser
uma boa alternativa", diz.
Brasil, no entanto, faz uma
ponderação. Para ele, mesmo
que outros estudos internacionais comprovem a eficácia do
método, será difícil realizar esse tipo de exame em toda a população com depressão.
"Falando em saúde pública, o
eletro é um exame que custa caro para ser feito e repetido em
uma semana. Acho que ele será
uma boa alternativa para aqueles pacientes que já tentaram
de tudo e continuam com a depressão persistente", avalia.
O psiquiatra Marcos Pacheco
Ferraz, professor da Unifesp,
diz que os resultados estão longe de serem aplicados na prática clínica porque da forma como foram apresentados, em
26% dos casos, não é possível
indicar o melhor medicamento
com exatidão. "Não ter resultado eficaz em um quarto dos casos é um problema. Além disso,
acho impossível fazer o exame
em todos os doentes", diz
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