São Paulo, terça-feira, 15 de setembro de 2009

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Depressão eleva risco de morte em doente com câncer

Estudo mostrou que pacientes deprimidos têm 40% mais chances de morrer; causa pode ser baixa adesão à terapia

Cerca de 30% das pessoas com câncer desenvolverão depressão em alguma fase da doença; paciente deve falar do estado emocional

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma meta-análise de 25 estudos, que será publicada em novembro na revista "Cancer", mostrou que pacientes com câncer que desenvolvem depressão têm risco de morte 40% maior. Sintomas depressivos elevam o risco em 25%.
No entanto, o trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade de British Columbia (Canadá), não relacionou os mecanismos pelos quais a depressão contribuiria para um pior prognóstico do câncer.
"Fica esquisito, porque, se você não consegue documentar que a depressão faz a doença progredir mais depressa, qual seria a relação causal entre a mortalidade e a depressão?", indaga o oncologista Drauzio Varella, colunista da Folha.
A menor adesão ao tratamento pode ser uma das explicações para os maiores índices de mortalidade entre os doentes deprimidos. "O paciente pode se abandonar, o que o leva a negligenciar o tratamento de alguma forma. Ele pode esquecer a consulta, pular uma sessão de quimioterapia...", afirma Célia Lídia da Costa, diretora do Departamento de Psiquiatria e Psicologia do Hospital A.C. Camargo.
Estima-se que cerca de 30% dos pacientes com câncer desenvolverão depressão em algum estágio da doença. "O deprimido não tem vontade de lutar contra a doença. A chance de esse paciente receber menos tratamento do que o necessário é grande", diz Varella.
Já se sabe que a depressão aumenta o tempo de internação e piora algumas das manifestações do câncer, como dores, fadiga e insônia. Alguns tratamentos trazem desconforto intenso, e a depressão instalada pode fazer com que o paciente tolere menos os efeitos colaterais da terapia e a abandone mais facilmente.
Por isso, é importante que a depressão seja tratada cedo. Para isso, o paciente deve informar ao médico sobre seu estado emocional. "Infelizmente, isso não ocorre com frequência. Parte dos pacientes não quer parecer fraca diante do oncologista; outros desejam que o médico foque somente no câncer", diz Sara Bottino, psiquiatra do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Os médicos ouvidos pela Folha enfatizam que o paciente que se sente deprimido -com falta de prazer pelas atividades de que gostava, com pensamento constante na doença e tristeza que não passa- não deve se sentir culpado.
"Fico um pouco revoltado com essas teorias, porque é muito comum você ver gente que acha que uma forma negativa de ver a vida ajudaria a desenvolver tumor. É uma simples especulação maldosa", argumenta Varella.


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