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Depressão eleva risco de morte em doente com câncer
Estudo mostrou que pacientes deprimidos têm 40% mais chances de morrer; causa pode ser baixa adesão à terapia
Cerca de 30% das pessoas com câncer desenvolverão depressão em alguma fase da doença; paciente deve falar do estado emocional
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma meta-análise de 25 estudos, que será publicada em
novembro na revista "Cancer",
mostrou que pacientes com
câncer que desenvolvem depressão têm risco de morte
40% maior. Sintomas depressivos elevam o risco em 25%.
No entanto, o trabalho, realizado por pesquisadores da Universidade de British Columbia
(Canadá), não relacionou os
mecanismos pelos quais a depressão contribuiria para um
pior prognóstico do câncer.
"Fica esquisito, porque, se
você não consegue documentar
que a depressão faz a doença
progredir mais depressa, qual
seria a relação causal entre a
mortalidade e a depressão?",
indaga o oncologista Drauzio
Varella, colunista da Folha.
A menor adesão ao tratamento pode ser uma das explicações para os maiores índices
de mortalidade entre os doentes deprimidos. "O paciente
pode se abandonar, o que o leva
a negligenciar o tratamento de
alguma forma. Ele pode esquecer a consulta, pular uma sessão de quimioterapia...", afirma
Célia Lídia da Costa, diretora
do Departamento de Psiquiatria e Psicologia do Hospital
A.C. Camargo.
Estima-se que cerca de 30%
dos pacientes com câncer desenvolverão depressão em algum estágio da doença. "O deprimido não tem vontade de
lutar contra a doença. A chance
de esse paciente receber menos tratamento do que o necessário é grande", diz Varella.
Já se sabe que a depressão
aumenta o tempo de internação e piora algumas das manifestações do câncer, como dores, fadiga e insônia. Alguns
tratamentos trazem desconforto intenso, e a depressão
instalada pode fazer com que o
paciente tolere menos os efeitos colaterais da terapia e a
abandone mais facilmente.
Por isso, é importante que a
depressão seja tratada cedo.
Para isso, o paciente deve informar ao médico sobre seu estado emocional. "Infelizmente,
isso não ocorre com frequência. Parte dos pacientes não
quer parecer fraca diante do
oncologista; outros desejam
que o médico foque somente
no câncer", diz Sara Bottino,
psiquiatra do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Os médicos ouvidos pela Folha enfatizam que o paciente
que se sente deprimido -com
falta de prazer pelas atividades
de que gostava, com pensamento constante na doença e tristeza que não passa- não deve se
sentir culpado.
"Fico um pouco revoltado
com essas teorias, porque é
muito comum você ver gente
que acha que uma forma negativa de ver a vida ajudaria a desenvolver tumor. É uma simples especulação maldosa", argumenta Varella.
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