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Droga para colesterol não previne morte
Estudo questiona a prática comum de prescrever esse tipo de remédio para pessoas sem doenças cardíacas
Medicamento não pode ser a primeira tentativa para baixar os níveis de gordura no sangue, dizem especialistas
FERNANDA BASSETTE
DE SÃO PAULO
Pesquisadores britânicos
colocaram em xeque o uso
indiscriminado de estatinas
(remédios para diminuir os
níveis de colesterol) por pessoas com colesterol elevado,
mas sem doença cardíaca.
Revisão de 11 estudos
constatou que o uso de estatinas como prevenção primária, nessas pessoas saudáveis, não reduz a mortalidade. Os resultados foram publicados na revista "Archives
of Internal Medicine".
Para chegar a essa conclusão, foram analisados dados
de 65.229 pessoas: 32.623 tomaram estatinas e 32.606 receberam placebo.
Depois de quase quatro
anos, 2.793 participantes do
estudo haviam morrido
(1.447 dos que tomaram placebo e 1.346 do grupo que recebeu o remédio).
Segundo os pesquisadores, a diferença no número
de mortes não tem relevância
estatística e, por isso, comprovaria que as estatinas não
têm efeito preventivo.
Os voluntários que tomaram placebo tinham níveis
de LDL (colesterol ruim)
maiores do que os que tomaram estatinas e, mesmo assim, os índices de mortalidade foram semelhantes, conforme o estudo.
USO MASSIFICADO
É controversa a prescrição
de estatinas para quem tem
colesterol elevado, mas não
tem doença cardíaca.
O assunto ganhou destaque em 2008, quando outro
estudo sobre o tema demonstrou que essas drogas poderiam prevenir doença cardíaca em pessoas com colesterol
baixo, mas com níveis altos
de PCR (uma proteína que indica inflamação no corpo).
"As estatinas viraram a
"pedra filosofal" do cardiologista. Há uma tendência de
massificar a indicação. Os
médicos prescrevem muito
essas drogas, até fora das indicações clássicas", diz Marcelo Ferraz Sampaio, médico
do Instituto Dante Pazzanese
de Cardiologia.
Para José Rocha Faria Neto, diretor-científico da Sociedade Paranaense de Cardiologia, a primeira providência para prevenir riscos
cardíacos deveria ser uma
mudança no estilo de vida,
com dieta e prática de exercícios físicos.
"Estatinas não são para
qualquer pessoa. Pacientes
de baixo risco devem tentar
reduzir o colesterol por pelo
menos seis meses antes de
tomar a medicação. Depois
de iniciado o tratamento com
remédio, é para a vida toda."
OUTRAS CAUSAS
Apesar de o estudo ter demonstrado que as estatinas
não previnem a mortalidade
geral, os cardiologistas dizem que a pesquisa não avaliou, por exemplo, se as estatinas foram eficientes na prevenção de infarto, derrame e
cirurgias cardíacas.
"Ainda existem muitas
controvérsias sobre indicar
ou não estatinas. Mas, como
houve poucas mortes e não
foi avaliado se houve menos
desfechos cardiovasculares,
fica difícil medir o impacto
do tratamento", pondera o
cardiologista Raul Dias dos
Santos, diretor da Sociedade
de Cardiologia do Estado de
São Paulo e diretor da unidade de lípides do InCor.
Sampaio concorda e diz
que as estatinas são eficientes, quando indicadas corretamente. Para ele, os resultados demonstram que não se
deve universalizar a indicação da droga.
"Temos que analisar com
muito critério quais pacientes vão realmente se beneficiar com as estatinas, porque
elas produzem efeitos colaterais, como dores musculares
e até problemas renais."
De acordo com Santos, as
estatinas podem fazer a diferença, desde que o paciente
tenha outros fatores de risco
agregados. "Temos que individualizar o tratamento",
afirma o cardiologista.
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