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Paraplégicos testam nova terapia celular
Especialistas brasileiros esperam que voluntários recuperem ao menos sensibilidade, reflexos e controle de esfíncteres
Células-tronco serão retiradas de medula óssea e aplicadas em 20 pacientes que tiveram lesão na coluna
DENISE MENCHEN
DO RIO
O Centro de Biotecnologia
e Terapia Celular do Hospital
São Rafael, em Salvador, deu
início na semana passada a
um estudo pioneiro para testar a eficácia do uso de células-tronco adultas em pessoas com paraplegia.
As células serão aplicadas
no local da lesão medular
-em estudos anteriores, foram inseridas em uma artéria
que irrigava a medula.
O objetivo da etapa inicial,
da qual participam 20 voluntários, é testar a segurança
do procedimento. Os pesquisadores, porém, esperam
que já seja possível notar melhora na sensibilidade, nos
reflexos e no controle dos esfíncteres dos pacientes.
"O problema do paraplégico é tão sério que, se conseguirmos uma melhora na
qualidade de vida, com o
controle dos esfíncteres anal
e uretral, já será fantástico",
diz o coordenador de pesquisa, Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz.
Em testes com cães e gatos
foi possível notar melhora
nesses itens em menos de um
mês. Em quase metade dos
casos, os animais recuperaram parcialmente os movimentos, segundo Santos.
O médico é cauteloso ao
prever os resultados em humanos. "A expectativa não é
de milagre", diz. "Ninguém
quer transformar ninguém
em corredor de maratona."
Na fase inicial, os testes serão restritos a pessoas que ficaram paraplégicas há pelo
menos seis meses - a maioria por acidentes de trânsito.
A seleção de voluntários
ainda está em andamento.
Interessados podem enviar
um e-mail para os pesquisadores (ticiana@cbtchsr.org).
Na semana passada, os
quatro primeiros voluntários
foram submetidos à coleta de
células da medula óssea.
O material foi para um laboratório, onde a concentração de células-tronco vai passar de 1% para 99%.
Depois, uma cirurgia vai
remover a cicatriz formada
na região da lesão. Com a
área livre, será feita a aplicação das células-tronco no local exato do trauma.
De acordo com Santos, o
procedimento deve estimular o crescimento dos nervos
lesados. Na cirurgia, o paciente receberá plasma sanguíneo rico em plaquetas.
"Isso faz uma estrutura de
coágulo que mantém as células-tronco no local da lesão."
A pesquisa é feita em parceria com o Hospital Espanhol, a Fiocruz e o Centro
Universitário da Bahia, com
financiamento do Ministério
da Saúde. Na próxima fase,
os pacientes serão divididos
em dois grupos para a comparação dos resultados.
SEGURANÇA
Para especialistas, o procedimento dessa pesquisa é
mais seguro do que os feitos
com células embrionárias,
como o autorizado pelo governo americano em julho.
"As células embrionárias
são mais eficientes, mas oferecem risco maior de tumores", diz a chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da USP,
Lygia da Veiga Pereira.
Santos ressalta que, às vezes, o processo de cultivo em
laboratório também leva ao
surgimento de células tumorais. Ele diz que a equipe está
atenta a isso. "Nosso trabalho de monitoramento é muito cuidadoso para não injetar
no paciente nada que possa
lhe fazer mal."
O sucesso com animais
não garante resultados bons
em humanos, diz Tarcísio
Eloy Pessoa de Barros Filho.
Professor-titular de ortopedia da Faculdade de Medicina da USP, ele fez uma pesquisa que conseguiu melhorar a sensibilidade de 60%
dos paraplégicos que participaram do estudo. Nesse caso, as células-tronco foram
injetadas em uma artéria que
irrigava o local da lesão. "Como não marcamos as células,
não dá para dizer quantas foram para a medula", diz. "A
idéia [de aplicar diretamente
no local da lesão] é válida."
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