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Bisturi ultrassônico corta ossos sem lesionar nervos
Equipamento recém-aprovado pela Anvisa poupa tecidos moles e é mais seguro para cirurgia realizada em crianças
Tecnologia é utilizada na
Europa há quase uma década, mas no Brasil ela esbarra no custo; o preço médio é de R$ 18 mil
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um bisturi ultrassônico recém-aprovado pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) promete aposentar as brocas e as serras usadas
no corte de ossos em cirurgias
delicadas como as de crânio, de
mandíbula, de maxilar, de coluna, das mãos e dos pés.
O aparelho possui uma frequência de energia que vibra e
corta somente os tecidos duros
(ossos). Como os tecidos moles
(músculos, pele, nervos e membranas) vibram na mesma frequência do aparelho, não são
afetados. É como cortar a casca
de um ovo sem atingir a membrana ou a gema.
Além do corte, o equipamento também permite raspagem
do osso, desgaste e perfuração,
além de remover tecidos necrosados de feridas.
Segundo o cirurgião plástico
Dov Goldemberg, chefe da
equipe de cirurgia craniofacial
do hospital Albert Einstein, o
aparelho é especialmente útil
nas cirurgias de face, já que os
ossos são mais delicados.
Lesões
A mandíbula, por exemplo,
possui nervos dentro do osso
que, se lesionados, podem até
mesmo afetar a estrutura e o
posicionamento dos dentes.
Segundo a literatura médica,
a taxa de lesões nos nervos durante uma cirurgia da mandíbula pode variar de 5% a 30%
dos casos. "Se a gente conseguir
reduzir para 1%, já será um ganho enorme", diz o médico.
Goldemberg afirma que o
equipamento poderá ser muito
útil nas cirurgias de nariz, já
que o órgão possui estruturas
delicadas e necessita de muita
força na quebra dos ossos.
Para o cirurgião, a única ressalva feita ao bisturi ultrassônico é que ele aumenta o tempo
cirúrgico. "Se uma cirurgia
convencional leva quatro horas, com ele demoramos uma
hora a mais do que se usássemos uma serra comum", diz.
Já a cirurgiã-dentista Renata
Pittella, consultora da ABO
(Associação Brasileira de
Odontologia) em biossegurança e cirurgia, lembra que, por
outro lado, o profissional ganha
o tempo que gastaria antes tentando proteger os tecidos moles ao redor do osso. "Como ele
só corta osso, dá mais segurança ao profissional. Ele não precisa se preocupar como antes."
Também há uma redução do
sangramento. "Da mesma maneira que o aparelho não corta
o nervo, não corta o vaso sanguíneo. Com o campo cirúrgico
mais limpo, há também uma visualização melhor."
Outra utilização importante
do equipamento é nos procedimentos feitos em crianças, que
possuem ossos mais frágeis e finos. "Ele traz mais segurança,
causa menos sangramento no
campo do corte e oferece maior
precisão nas raspagens dos ossos", diz Goldemberg.
Na Europa, a tecnologia existe há quase uma década, mas no
Brasil ela esbarra no custo. Por
ser nova, são poucos os convênios médicos e odontológicos
que a custeiam -até porque
não há comprovação científica
de que ela resulte em maior eficácia. O preço médio do aparelho é de R$ 18 mil.
Odontologia
No Brasil, o aparelho tem sido usado principalmente na
área odontológica, em cirurgias
bucomaxilofaciais e de colocação de implantes dentários.
"Antigamente a gente usava
muita serra e muita broca, o
que podia gerar um deficit nervoso. O paciente podia perder
sensibilidade de uma área", explica o cirurgião-dentista Geraldo Prestes de Camargo, especialista em traumatologia
bucomaxilofacial.
Segundo ele, com o aparelho
o médico passa a ter mais controle sobre a parte do corpo do
paciente que irá trabalhar, retirando apenas a quantidade de
osso desejada, protegendo a região de traumas e minimizando
as complicações, como a lesão e
necrose de tecidos. "A cirurgia
é mais delicada e precisa."
Para Renata Pittella, da ABO,
quando o equipamento tiver
preços mais atrativos, ele deverá ser uma ferramenta obrigatória nos consultórios odontológicos do país.
"Com um bom profissional, o
resultado final de uma cirurgia
pode ser o mesmo [com a tecnologia atual e com a nova].
Mas, sem dúvida, a tecnologia
ultrassônica traz menos riscos
ao paciente e mais segurança ao
profissional", afirma.
Geraldo Camargo concorda:
"É difícil quantificar quanto
custaria um problema [uma lesão de nervo, por exemplo].
Quem conhece a nova tecnologia, dificilmente volta atrás, é
um caminho sem volta".
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