São Paulo, sábado, 17 de outubro de 2009

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Bisturi ultrassônico corta ossos sem lesionar nervos

Equipamento recém-aprovado pela Anvisa poupa tecidos moles e é mais seguro para cirurgia realizada em crianças

Tecnologia é utilizada na Europa há quase uma década, mas no Brasil ela esbarra no custo; o preço médio é de R$ 18 mil


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Um bisturi ultrassônico recém-aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) promete aposentar as brocas e as serras usadas no corte de ossos em cirurgias delicadas como as de crânio, de mandíbula, de maxilar, de coluna, das mãos e dos pés.
O aparelho possui uma frequência de energia que vibra e corta somente os tecidos duros (ossos). Como os tecidos moles (músculos, pele, nervos e membranas) vibram na mesma frequência do aparelho, não são afetados. É como cortar a casca de um ovo sem atingir a membrana ou a gema.
Além do corte, o equipamento também permite raspagem do osso, desgaste e perfuração, além de remover tecidos necrosados de feridas.
Segundo o cirurgião plástico Dov Goldemberg, chefe da equipe de cirurgia craniofacial do hospital Albert Einstein, o aparelho é especialmente útil nas cirurgias de face, já que os ossos são mais delicados.

Lesões
A mandíbula, por exemplo, possui nervos dentro do osso que, se lesionados, podem até mesmo afetar a estrutura e o posicionamento dos dentes.
Segundo a literatura médica, a taxa de lesões nos nervos durante uma cirurgia da mandíbula pode variar de 5% a 30% dos casos. "Se a gente conseguir reduzir para 1%, já será um ganho enorme", diz o médico.
Goldemberg afirma que o equipamento poderá ser muito útil nas cirurgias de nariz, já que o órgão possui estruturas delicadas e necessita de muita força na quebra dos ossos.
Para o cirurgião, a única ressalva feita ao bisturi ultrassônico é que ele aumenta o tempo cirúrgico. "Se uma cirurgia convencional leva quatro horas, com ele demoramos uma hora a mais do que se usássemos uma serra comum", diz.
Já a cirurgiã-dentista Renata Pittella, consultora da ABO (Associação Brasileira de Odontologia) em biossegurança e cirurgia, lembra que, por outro lado, o profissional ganha o tempo que gastaria antes tentando proteger os tecidos moles ao redor do osso. "Como ele só corta osso, dá mais segurança ao profissional. Ele não precisa se preocupar como antes."
Também há uma redução do sangramento. "Da mesma maneira que o aparelho não corta o nervo, não corta o vaso sanguíneo. Com o campo cirúrgico mais limpo, há também uma visualização melhor."
Outra utilização importante do equipamento é nos procedimentos feitos em crianças, que possuem ossos mais frágeis e finos. "Ele traz mais segurança, causa menos sangramento no campo do corte e oferece maior precisão nas raspagens dos ossos", diz Goldemberg.
Na Europa, a tecnologia existe há quase uma década, mas no Brasil ela esbarra no custo. Por ser nova, são poucos os convênios médicos e odontológicos que a custeiam -até porque não há comprovação científica de que ela resulte em maior eficácia. O preço médio do aparelho é de R$ 18 mil.

Odontologia
No Brasil, o aparelho tem sido usado principalmente na área odontológica, em cirurgias bucomaxilofaciais e de colocação de implantes dentários.
"Antigamente a gente usava muita serra e muita broca, o que podia gerar um deficit nervoso. O paciente podia perder sensibilidade de uma área", explica o cirurgião-dentista Geraldo Prestes de Camargo, especialista em traumatologia bucomaxilofacial.
Segundo ele, com o aparelho o médico passa a ter mais controle sobre a parte do corpo do paciente que irá trabalhar, retirando apenas a quantidade de osso desejada, protegendo a região de traumas e minimizando as complicações, como a lesão e necrose de tecidos. "A cirurgia é mais delicada e precisa."
Para Renata Pittella, da ABO, quando o equipamento tiver preços mais atrativos, ele deverá ser uma ferramenta obrigatória nos consultórios odontológicos do país.
"Com um bom profissional, o resultado final de uma cirurgia pode ser o mesmo [com a tecnologia atual e com a nova]. Mas, sem dúvida, a tecnologia ultrassônica traz menos riscos ao paciente e mais segurança ao profissional", afirma.
Geraldo Camargo concorda: "É difícil quantificar quanto custaria um problema [uma lesão de nervo, por exemplo]. Quem conhece a nova tecnologia, dificilmente volta atrás, é um caminho sem volta".


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