São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2010

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MINHA HISTÓRIA LUCILIA DINIZ, 54

Mulher mutante

(...)Terminado o efeito da anestesia, a sensação era a de ter passado por um moedor de cana(...) Todo esse empenho foi apenas para obter linhas mais suaves no meu corpo e rosto, não para virar menininha(...) Plástica não foi feita para gerar autoestima, mas para celebrar a autoestima que já existe dentro de nós

Eduardo Knapp/Folhapress
Compare como era e como ficou o perfil de Lucilia depois da intervenção cirúrgica, que durou seis horas e meia

(...) Depoimento a
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO

Em agosto, a empresária Lucilia Diniz, sócia do grupo Pão de Açúcar, fez uma plástica de seis horas e meia de duração: abdome, glúteos, peito e pescoço. Não foi sua estreia no bisturi. Já tinha feito o nariz e o busto, e também plásticas reparadoras para tirar excesso de pele -dez anos atrás, reduziu à metade seu peso de 120 kg.
A caçula de uma tradicional família portuguesa foi criada para ser dona de casa, mas diz ter superado o estigma. "Dava certa preguiça de viver. Ter dinheiro pode até atrapalhar a felicidade."
Hoje empreendedora de sucesso, lançou uma linha de produtos de baixas calorias que se tornou a maior da América Latina. Escreveu oito livros. Em colunas sociais, é vista nas animadas rodas de pôquer que organiza em sua casa, com convidados como o técnico Vanderlei Luxemburgo e o cantor Latino.
"Muitos me perguntam por que fiz uma cirurgia tão extensa: oito horas no centro cirúrgico e um pós-operatório extremamente dolorido. Teria sido aliviado se eu dividisse em várias internações.
Curioso é que eu não estava me achando caída. Tenho pele boa e adoto há anos uma rotina de exercícios para manter postura e músculos.
Havia uma cicatriz que me incomodava, de uma cirurgia anterior. E precisava arrumar meu peito, a prótese tinha saído do lugar. Sabendo que voltaria ao centro cirúrgico, comecei a reparar em outras coisas. Lembrei que que só andava na praia usando sainha sobre o biquíni. Se fosse para corrigir tudo, que fizesse de uma só vez e arcasse com as consequências!
Foi muita pesquisa até escolher o médico. Ir aos consultórios tem algo de surreal. Você chega, passa pela atendente, é encaminhada a um assistente, a um fotógrafo e só então ao cirurgião. E se der espaço a ele, vai escutar que tem um monte de defeitos.
Às vésperas bateu uma aflição. Mas mesmo sendo uma cirurgia extensa, tudo correu bem. Dureza mesmo foi o pós-operatório.
Terminado o efeito da anestesia, a sensação era a de ter passado por um moedor de cana. Só dormi no terceiro dia -e ainda assim em uma cadeira. Operei o glúteo, as laterais, o abdômen, o peito, o pescoço. Vai encontrar posição nesse estado!
Todo esse empenho foi só para obter linhas mais suaves no meu corpo e rosto, não para virar menininha.
Não é todo mundo que entende isso. Acham que o resultado de uma plástica deve trazer evidências, quando a boa é aquela que ninguém repara. Acham que você tirou férias, caminhou e voltou descansada e sarada.
Plástica não foi feita para gerar autoestima, mas para celebrar a autoestima que já existe dentro de nós. Quem não se gosta continuará não gostando, não importa o quanto se corte ou se estique.
A maior mexida de autoestima aconteceu há 10 anos, quando emagreci, lancei uma linha de produtos de baixa caloria e passei a propagar minha experiência por meio de livros e palestras.
Meu pai era um homem dedicado ao trabalho, enquanto minha mãe cuidava de mim e dos meus irmãos. Não havia, nos anos 60, qualquer ansiedade para preparar filhas mulheres para uma vida de estudo e trabalho.
Meus irmãos levavam uma vida intensa. Trabalhavam na empresa, estudavam, faziam esportes, arrancavam em Interlagos e namoravam as mulheres mais lindas.
Já a graça e os desafios da vida, para mim e minhas irmãs, eram um romance, do qual só líamos até a página 2.
Com rotina tão pouco movimentada, éramos todas obesas, claro. Então vieram os três casamentos, os divórcios e inúmeros indícios de que algo estava errado.
O sentimento de derrota era imenso. Não conhecia quase nada do mundo. Eu só tinha dinheiro, que era mais uma fonte de problemas, encargos e neuroses familiares do que um recurso para me ajudar a ser feliz.
Foi então que eu mesma me dei um ultimato. Um dia me olhei no espelho: Então? É assim que você quer passar o resto da sua vida?
Hoje, só quero que as pessoas me enxerguem como sou: uma mulher madura, com saúde e de bem com a vida. Acho que sou, sobretudo, uma mulher interessante.


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