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MINHA HISTÓRIA LUCILIA DINIZ, 54
Mulher mutante
(...)Terminado o efeito da anestesia, a sensação era a de ter passado por um moedor de cana(...) Todo esse empenho foi apenas para obter linhas mais suaves no meu corpo e rosto, não para virar menininha(...) Plástica não foi feita para gerar autoestima, mas para celebrar a autoestima que já existe dentro de nós
Eduardo Knapp/Folhapress
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Compare como era e como ficou o perfil de Lucilia depois da intervenção cirúrgica, que durou seis horas e meia
(...) Depoimento a
MORRIS KACHANI
DE SÃO PAULO
Em agosto, a empresária
Lucilia Diniz, sócia do grupo
Pão de Açúcar, fez uma plástica de seis horas e meia de
duração: abdome, glúteos,
peito e pescoço. Não foi sua
estreia no bisturi. Já tinha feito o nariz e o busto, e também
plásticas reparadoras para tirar excesso de pele -dez
anos atrás, reduziu à metade
seu peso de 120 kg.
A caçula de uma tradicional família portuguesa foi
criada para ser dona de casa,
mas diz ter superado o estigma. "Dava certa preguiça de
viver. Ter dinheiro pode até
atrapalhar a felicidade."
Hoje empreendedora de
sucesso, lançou uma linha
de produtos de baixas calorias que se tornou a maior da
América Latina. Escreveu oito livros. Em colunas sociais,
é vista nas animadas rodas
de pôquer que organiza em
sua casa, com convidados
como o técnico Vanderlei Luxemburgo e o cantor Latino.
"Muitos me perguntam
por que fiz uma cirurgia tão
extensa: oito horas no centro
cirúrgico e um pós-operatório extremamente dolorido.
Teria sido aliviado se eu dividisse em várias internações.
Curioso é que eu não estava me achando caída. Tenho
pele boa e adoto há anos uma
rotina de exercícios para
manter postura e músculos.
Havia uma cicatriz que me
incomodava, de uma cirurgia anterior. E precisava arrumar meu peito, a prótese tinha saído do lugar. Sabendo
que voltaria ao centro cirúrgico, comecei a reparar em
outras coisas. Lembrei que
que só andava na praia usando sainha sobre o biquíni. Se
fosse para corrigir tudo, que
fizesse de uma só vez e arcasse com as consequências!
Foi muita pesquisa até escolher o médico. Ir aos consultórios tem algo de surreal.
Você chega, passa pela atendente, é encaminhada a um
assistente, a um fotógrafo e
só então ao cirurgião. E se der
espaço a ele, vai escutar que
tem um monte de defeitos.
Às vésperas bateu uma
aflição. Mas mesmo sendo
uma cirurgia extensa, tudo
correu bem. Dureza mesmo
foi o pós-operatório.
Terminado o efeito da
anestesia, a sensação era a
de ter passado por um moedor de cana. Só dormi no terceiro dia -e ainda assim em
uma cadeira. Operei o glúteo,
as laterais, o abdômen, o peito, o pescoço. Vai encontrar
posição nesse estado!
Todo esse empenho foi só
para obter linhas mais suaves no meu corpo e rosto, não
para virar menininha.
Não é todo mundo que entende isso. Acham que o resultado de uma plástica deve
trazer evidências, quando a
boa é aquela que ninguém repara. Acham que você tirou
férias, caminhou e voltou
descansada e sarada.
Plástica não foi feita para
gerar autoestima, mas para
celebrar a autoestima que já
existe dentro de nós. Quem
não se gosta continuará não
gostando, não importa o
quanto se corte ou se estique.
A maior mexida de autoestima aconteceu há 10 anos,
quando emagreci, lancei
uma linha de produtos de
baixa caloria e passei a propagar minha experiência por
meio de livros e palestras.
Meu pai era um homem
dedicado ao trabalho, enquanto minha mãe cuidava
de mim e dos meus irmãos.
Não havia, nos anos 60, qualquer ansiedade para preparar filhas mulheres para uma
vida de estudo e trabalho.
Meus irmãos levavam uma
vida intensa. Trabalhavam
na empresa, estudavam, faziam esportes, arrancavam
em Interlagos e namoravam
as mulheres mais lindas.
Já a graça e os desafios da
vida, para mim e minhas irmãs, eram um romance, do
qual só líamos até a página 2.
Com rotina tão pouco movimentada, éramos todas
obesas, claro. Então vieram
os três casamentos, os divórcios e inúmeros indícios de
que algo estava errado.
O sentimento de derrota
era imenso. Não conhecia
quase nada do mundo. Eu só
tinha dinheiro, que era mais
uma fonte de problemas, encargos e neuroses familiares
do que um recurso para me
ajudar a ser feliz.
Foi então que eu mesma
me dei um ultimato. Um dia
me olhei no espelho: Então?
É assim que você quer passar
o resto da sua vida?
Hoje, só quero que as pessoas me enxerguem como
sou: uma mulher madura,
com saúde e de bem com a vida. Acho que sou, sobretudo,
uma mulher interessante.
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