|
Próximo Texto | Índice
EUA mudam diretriz para rastrear câncer de mama
Mulher fora de grupo de risco deve iniciar exames aos 50 anos, e não aos 40
A mudança pretende evitar o excesso de mamografias e diminuir a quantidade de resultados falsos positivos, mas é considerada polêmica
Divulgação
![](../images/h1711200901.jpg) |
|
Mulher é submetida à mamografia para detectar tumores
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após sete anos, os Estados
Unidos modificaram sua recomendação para o rastreamento
do câncer de mama. Segundo as
novas diretrizes, mulheres que
não pertencem aos grupos de
risco devem começar a fazer
mamografias de rotina a partir
dos 50 anos, e não mais a partir
dos 40. As novas orientações
mudam também a frequência:
dos 50 aos 74 anos, os testes devem ser realizados a cada dois
anos, e não anualmente.
As novas diretrizes, elaboradas pelo US Preventive Services Task Force, um grupo influente de pesquisadores ligado
ao governo americano, foram
publicadas ontem no periódico
"Annals of Internal Medicine".
Segundo os autores, a mudança visa evitar o excesso de
exames desnecessários e diminuir o número de resultados
falsos positivos. Além disso, dizem eles, as mamografias podem apontar tumores que cresceriam tão devagar que nunca
seriam detectados. Nesses casos, a paciente passaria por um
tratamento sem necessidade.
Para Ricardo Chagas, presidente da Sociedade Brasileira
de Mastologia, há muitas divergências sobre o assunto.
"Por agora, isso não deve mudar condutas no Brasil", diz.
"Mas há uma tendência de mudança a longo prazo." Segundo
ele, hoje se recomenda o rastreamento acima dos 40 anos
para os grupos de risco.
Os especialistas americanos
defendem ainda que não há
comprovação dos benefícios do
autoexame ou dos exames de
toque feitos por médicos.
A maioria dos países segue
um plano de mamografias regulares após os 40 ou 50 anos,
para detectar tumores no início. O câncer de mama é o que
mais mata mulheres no mundo
-500 mil por ano.
Controvérsia
A Sociedade Americana de
Câncer disse que pretende ignorar as novas diretrizes. Em
outubro, a entidade reconheceu que os exames haviam sido
superestimados, mas não mudou suas recomendações.
Para José Roberto Filassi,
chefe do setor de mastologia do
Instituto do Câncer do Estado
de São Paulo Octavio Frias de
Oliveira, entre os 40 e 50 anos a
falha nos diagnósticos por mamografia é muito grande. "O
exame está passando por uma
reavaliação. Uma meta-análise
da Cochrane concluiu que não
há certeza de que os benefícios
sejam maiores do que o risco."
O trabalho da Cochrane, baseado em sete estudos com 600
mil mulheres, concluiu que o
rastreamento precoce do câncer de mama leva à redução de
15% na mortalidade e a 30% de
exagero no diagnóstico e no
tratamento. Segundo o estudo,
o rastreamento aumenta a sobrevida de uma em cada 2.000
mulheres e faz com que dez sejam tratadas sem necessidade.
Segundo a mastologista Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições
Filantrópicas de Apoio à Saúde
da Mama, "não existe nada melhor, por enquanto, do que fazer o diagnóstico precoce. Há
problemas com exames em larga escala? Há. Mas nem por isso
tem que deixar de fazer ou
adiar a mamografia".
Para Sergio Simon, professor
de oncologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a diretriz proposta nos EUA
faz pouca diferença para o Brasil. "Aqui, a lei diz para fazer aos
40, o Inca diz que é a partir dos
50 e, mesmo assim, não conseguem fazer direito nem para essa população. Quando estiverem fazendo tudo direitinho, aí
podemos conversar sobre a idade e o intervalo ideais."
O Ministério da Saúde disse,
por meio de sua assessoria de
imprensa, que não comentaria.
Colaboraram RACHEL BOTELHO, da Reportagem Local, e IARA BIDERMAN, colaboração para a Folha
Próximo Texto: Frase Índice
|