|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HC usa técnica inédita para tratar fetos com má-formação urinária
Cirurgia minimamente invasiva com laser já foi realizada em dez pacientes
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Hospital das Clínicas de
São Paulo está realizando uma
cirurgia inédita no país para
tratar casos de fetos com má-formação urinária -quando a
uretra é obstruída por uma
membrana, impedindo o bebê
de urinar. Há risco de morte na
gestação ou de sérios problemas renais e pulmonares após
o nascimento.
Segundo o obstetra Rodrigo
Ruano, professor da Faculdade
de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e responsável pelo uso da técnica no Brasil, a obstrução da uretra impede que a bexiga seja esvaziada,
provocando o acúmulo do líquido -o que causa dilatação
dos rins e lesão de suas funções.
Além disso, não há formação
de líquido amniótico -fundamental para o desenvolvimento dos pulmões do bebê. Estima-se que 1 em cada 3.000 bebês tenha essa má-formação.
A técnica que está sendo realizada no HC usa um endoscópio e laser para romper a membrana que obstrui a uretra e fazer o bebê voltar a urinar.
O método foi usado pela primeira vez no HC no final de
2007 e até hoje dez bebês já foram operados ainda no útero. A
cirurgia demora duas horas.
"A mãe e o bebê são anestesiados. Inserimos uma cânula
com uma agulha na barriga da
mãe e chegamos até a uretra do
bebê. Depois colocamos o endoscópio e o laser e rompemos
a membrana. Assim, o líquido
acumulado escorre para a uretra e é eliminado normalmente
pelo feto", explica o médico.
De acordo com Ruano, a nova
técnica poderá substituir a cirurgia realizada até o momento, que consiste no implante de
um cateter que liga a urina do
feto ao líquido amniótico. Essa
técnica, padronizada como tratamento atualmente, não traz
resultados 100% satisfatórios
porque, apesar da cirurgia,
muitas crianças precisam fazer
transplante renal.
Caráter experimental
O obstetra Antônio Fernandes Moron, chefe do Departamento de Obstetrícia da Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo) e coordenador de
medicina fetal do Hospital Santa Joana e da Pro-Matre, afirma
que aplicou uma técnica parecida há dez anos e que a criança
hoje está bem, sem nenhuma
sequela renal.
"A nova técnica deve ser vista
como de caráter experimental,
mas, sem dúvida, é uma tentativa de salvar vidas. O uso do laser é inédito nesse sentido."
Para Eduardo Isfer, ginecologista e especialista em medicina fetal, a proposta da nova técnica é interessante, mas ainda é
preciso saber qual é a real eficácia desse procedimento a longo
prazo. "Será que a cicatrização
da membrana queimada não
vai obstruir o canal de novo?
Será que essas crianças vão ficar com as funções renais totalmente preservadas?", disse.
"Essa é uma pergunta que
ainda não temos como responder, mas, por enquanto, os resultados que temos visto são
promissores", diz Ruano.
Texto Anterior: Terapia celular gera tumor cerebral em garoto, diz estudo Próximo Texto: Frase Índice
|