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36% dos que não fumam têm poluente
Monóxido de carbono inalado cai na corrente sanguínea e aumenta os riscos de desenvolver problemas cardiovasculares
Levantamento foi feito em 2008 na cidade de São Paulo e avaliou a concentração da substância no organismo de pessoas que não fumavam
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de um terço dos moradores de São Paulo que não fumam possuem concentração
de monóxido de carbono nos
pulmões similar à dos fumantes, aponta levantamento do
Cratod (Centro de Referência
em Álcool, Tabaco e outras
Drogas), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, os resultados
obtidos na capital paulista são
semelhantes aos apresentados
em estudos internacionais, que
apontam que entre 30% e 40%
dos não-fumantes consomem
monóxido de carbono da fumaça do cigarro cronicamente.
A Secretaria de Saúde fez o
levantamento no ano passado e
ouviu 1.310 não-fumantes em
locais fechados e abertos. Além
de responderem a um questionário específico, os participantes fizeram o teste do monoxímetro -aparelho que mede a
concentração de monóxido de
carbono no organismo.
Ar expirado
O teste é similar ao do bafômetro e avalia a quantidade da
substância no ar expirado. O
voluntário sopra em uma boqueira, e a concentração aparece no visor digital.
"É um teste muito fácil de ser
aplicado. Todas as cidades deveriam ter esse equipamento,
pois ele consegue apontar com
eficiência a dependência do cigarro", afirma a psiquiatra Luizemir Lago, diretora do Cratod.
Segundo Lago, em não-fumantes, a concentração aceitável varia de zero a seis partes
por milhão (ppm) porque é preciso considerar a poluição ambiental. Entre os fumantes leves, essa concentração varia de
6,1 ppm a 10 ppm; entre os fumantes moderados, o nível fica
entre 10,1 ppm e 20 ppm e, entre os pesados, o valor oscila entre 20,1 ppm e 60 ppm.
Do total de avaliados, 18,32%
tiveram resultado compatível
com a concentração em fumantes leves, 15,27% dos testes
apontaram resultados similares aos de fumantes moderados, e 2,29% indicaram níveis
compatíveis com fumantes pesados. Os 64,12% restantes
apresentaram níveis normais.
De acordo com o pneumologista Sérgio Ricardo Santos,
coordenador do PrevFumo
(ambulatório de controle do tabagismo) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ao
inalar a fumaça do cigarro, o fumante passivo joga diretamente para o pulmão o monóxido
de carbono, que é absorvido e
cai na corrente sanguínea.
Uma vez no sangue, ele se liga
às moléculas de hemoglobina
(responsáveis pelo transporte
de oxigênio) e ocupa as áreas de
ligação com o oxigênio. Com o
tempo, o sangue perde a capacidade de transportar oxigênio, o
que pode causar problemas
cardiovasculares mais graves.
"O monóxido de carbono é
vasoconstritor e pode provocar
o fechamento dos vasos sanguíneos. Além disso, há menos irrigação sanguínea e há alteração do funcionamento dos órgãos. São os mesmos fenômenos observados nos fumantes",
explica o pneumologista.
A cardiologista Jaqueline
Scholz Issa, coordenadora do
Programa de Tratamento do
Tabagismo do InCor (Instituto
do Coração), diz que já fez estudos semelhantes em São Paulo
e constatou que mesmo quem
sofre com a exposição contínua
à poluição (como guardas de
trânsito) não apresenta níveis
tão elevados de monóxido de
carbono no organismo.
"Os resultados são preocupantes porque mostram valores compatíveis com o organismo de quem fuma. O levantamento comprova que o tabagismo passivo não é inócuo e que
essas pessoas estão expostas a
riscos reais", afirma.
Segundo os especialistas, a
única forma de se proteger desses danos provocados pelo cigarro é evitar frequentar lugares em que o fumo é permitido.
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