São Paulo, sexta-feira, 19 de março de 2010

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SP terá teste da orelhinha na rede pública

Triagem auditiva neonatal universal detecta risco de surdez e será feita em todo bebê na capital paulista a partir de maio

Exame era feito apenas para bebês com alto risco de ter problemas de audição, como os prematuros ou os que nascem com baixo peso


Karime Xavier/Folha Imagem
Maria Eduarda Magalhães de Assis, de um ano e seis meses, que foi diagnosticada com surdez bilateral pelo teste da orelhinha, feito em um hospital particular

MARIANA VERSOLATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A partir de maio, todas as crianças nascidas na rede pública da cidade de São Paulo e cobertas pelo programa Rede de Apoio à Mãe Paulistana farão a triagem auditiva neonatal universal. Conhecido como teste da orelhinha, o exame identifica precocemente o risco de perda da audição.
O programa acolhe todas as gestantes atendidas nas redes municipal e estadual da capital paulista e faz o acompanhamento das crianças durante seu primeiro ano de vida.
Hoje, segundo a lei estadual nº 12.522, de 2007, a triagem é feita na rede pública só em bebês com maior risco de ter problemas auditivos -bebês prematuros ou de baixo peso, por exemplo. Só alguns centros especializados, como o Hospital das Clínicas da USP, oferecem o teste de forma universal.
Segundo a coordenadora do Mãe Paulistana, Maria Aparecida de Carvalho, o teste ainda não havia sido implementado para todos os recém-nascidos por falta de uma rede de atendimento multidisciplinar, que envolve fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas e pediatras.
"Foi preciso construir essa rede para as cerca de 9.000 crianças que nascem por mês na rede pública em São Paulo. A dificuldade era ter condições de fazer o atendimento em todas as etapas do processo, ou seja, na triagem, no diagnóstico e na reabilitação, caso seja detectado algum problema", diz.
Ela afirma que, provavelmente, os bebês que nascem na rede particular continuarão a fazer o teste pago. "Ele é feito na própria maternidade. O SUS não negaria atendimento a essas mães, mas acho improvável que elas se desloquem para o serviço público com o bebê."

Problema "invisível"
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e professora da PUC-SP, Doris Lewis, afirma que, sem a triagem universal, apenas 50% das crianças com deficiência auditiva são diagnosticadas.
"Nem toda criança de risco tem o problema, mas muitas crianças sem risco apresentam alguma deficiência auditiva. Só que ninguém desconfia das "bem-nascidas" porque se trata de um agravo "invisível"", afirma a especialista.
De acordo com Lewis, a triagem universal é uma estratégia para que o problema seja detectado precocemente e não afete de forma drástica o desenvolvimento das crianças. "Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor o tratamento", diz.
Ela diz que uma lei federal para tornar o teste universal nacionalmente está tramitando, mas ainda não foi aprovada.
A triagem deve ser feita nas primeiras semanas de vida dos recém-nascidos. O exame que estará disponível na rede pública é a emissão otoacústica.
De acordo com Marcelo Ribeiro de Toledo Piza, diretor da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, cerca de 2% das crianças não passam no primeiro teste, o que não significa que elas tenham problemas auditivos. O bebê deve repetir o exame e fazer um diagnóstico mais detalhado.
Em cada 10 mil crianças, 30 têm algum tipo de deficiência auditiva. Na mesma população, apenas uma tem fenilcetonúria e 2,5 têm hipotireoidismo -doenças detectadas no teste do pezinho, já universal.


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