São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2010

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Estudo mostra preconceito contra crianças estrábicas

Portadores do problema têm chances reduzidas de serem convidados para festinhas, mostra equipe de oftalmologistas suíços

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Um olho prestando atenção no gato, outro no peixe na frigideira. Ser vesgo não é só ter de ouvir piadas como essa, mas sofrer preconceito na hora de conseguir um emprego ou um parceiro.
O grupo que já demonstrara esses efeitos sociais do estrabismo agora relata que a criança estrábica tem menos chances de ser convidada para festinhas de aniversário.
Segundo Stefania Margherita Mojon-Azzi, Andrea Kunz e Daniel Stéphane Mojon, o preconceito contra crianças estrábicas aparece já em torno dos seis anos.
A equipe recrutou para o estudo 118 crianças de três a 12 anos que eram pacientes de uma clínica de oftalmologia em Saint Gallen, Suíça; nenhuma era estrábica.
Os pesquisadores usaram fotos de crianças que seriam ou não convidadas para a suposta festa. A mesma foto era alterada para criar um "gêmeo" estrábico. Um dos "gêmeos" era esotrópico (vesgo com o olho para fora), outro era endotrópico (vesgo com o olho para dentro).
Havia um conjunto de fotos de um garoto e outro de uma menina, um total de seis fotos. A cor da camiseta também era modificada na foto.
Cada criança tinha que escolher quatro vezes, ou seja, poderia convidar um estrábico de zero a quatro vezes.
Entre 48 crianças com idades entre seis e oito anos, nada menos que 18 não convidariam nenhum vesgo; 17 escolheram só uma vez, 11 o fizeram duas vezes e apenas duas escolheram três vezes. Nenhuma escolheu o estrábico as quatro vezes.
A equipe sugere que a cirurgia corretiva seja feita a partir dos seis anos. "Não podemos mudar uma tendência da maioria das sociedades de que todo mundo quer parecer perfeito e jovem. Como na Suíça, em muitos países o número de crianças e adultos com estrabismo visível está cada vez menor, e a maioria não sabe mais como reagir se confrontada com uma pessoa muito estrábica", disse Mojon à Folha.
"Somos a clínica que introduziu dez novos procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos para corrigir estrabismo", declara Mojon.

IMPACTO
"A criança estrábica é totalmente discriminada", diz o oftalmologista brasileiro Ruy Kamei. "Ela tem dificuldade de te fitar nos olhos. É muito retraída", diz. Kamei concorda com as conclusões do estudo, que corresponde à prática do seu consultório.
Ele conta já ter feito correção de estrabismo em um homem de 40 anos que percebeu que sua vesguice estava criando problemas nas entrevistas de emprego.
O impacto do estrabismo na autoestima das crianças pode ser demolidor. Kamei narra outro episódio em que o estrabismo "parecia estar até segurando o desenvolvimento de uma menina de 12 anos". Enquanto suas irmãs nessa idade já tinham até menstruado e estavam com 1,70 m de altura, ela continuava sem menstruar e com 1,40 m. Depois da cirurgia, ela logo menstruou e alcançou a altura das outras irmãs.


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