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Estudo mostra preconceito contra crianças estrábicas
Portadores do problema têm chances reduzidas de serem convidados para festinhas, mostra equipe de oftalmologistas suíços
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
Um olho prestando atenção no gato, outro no peixe
na frigideira. Ser vesgo não é
só ter de ouvir piadas como
essa, mas sofrer preconceito
na hora de conseguir um emprego ou um parceiro.
O grupo que já demonstrara esses efeitos sociais do estrabismo agora relata que a
criança estrábica tem menos
chances de ser convidada para festinhas de aniversário.
Segundo Stefania Margherita Mojon-Azzi, Andrea
Kunz e Daniel Stéphane Mojon, o preconceito contra
crianças estrábicas aparece
já em torno dos seis anos.
A equipe recrutou para o
estudo 118 crianças de três a
12 anos que eram pacientes
de uma clínica de oftalmologia em Saint Gallen, Suíça;
nenhuma era estrábica.
Os pesquisadores usaram
fotos de crianças que seriam
ou não convidadas para a suposta festa. A mesma foto era
alterada para criar um "gêmeo" estrábico. Um dos "gêmeos" era esotrópico (vesgo
com o olho para fora), outro
era endotrópico (vesgo com o
olho para dentro).
Havia um conjunto de fotos de um garoto e outro de
uma menina, um total de seis
fotos. A cor da camiseta também era modificada na foto.
Cada criança tinha que escolher quatro vezes, ou seja,
poderia convidar um estrábico de zero a quatro vezes.
Entre 48 crianças com idades entre seis e oito anos, nada menos que 18 não convidariam nenhum vesgo; 17 escolheram só uma vez, 11 o fizeram duas vezes e apenas
duas escolheram três vezes.
Nenhuma escolheu o estrábico as quatro vezes.
A equipe sugere que a cirurgia corretiva seja feita a
partir dos seis anos. "Não podemos mudar uma tendência
da maioria das sociedades de
que todo mundo quer parecer perfeito e jovem. Como na
Suíça, em muitos países o
número de crianças e adultos
com estrabismo visível está
cada vez menor, e a maioria
não sabe mais como reagir se
confrontada com uma pessoa muito estrábica", disse
Mojon à Folha.
"Somos a clínica que introduziu dez novos procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos para corrigir
estrabismo", declara Mojon.
IMPACTO
"A criança estrábica é totalmente discriminada", diz
o oftalmologista brasileiro
Ruy Kamei. "Ela tem dificuldade de te fitar nos olhos. É
muito retraída", diz. Kamei
concorda com as conclusões
do estudo, que corresponde à
prática do seu consultório.
Ele conta já ter feito correção de estrabismo em um homem de 40 anos que percebeu que sua vesguice estava
criando problemas nas entrevistas de emprego.
O impacto do estrabismo
na autoestima das crianças
pode ser demolidor. Kamei
narra outro episódio em que
o estrabismo "parecia estar
até segurando o desenvolvimento de uma menina de 12
anos". Enquanto suas irmãs
nessa idade já tinham até
menstruado e estavam com
1,70 m de altura, ela continuava sem menstruar e com
1,40 m. Depois da cirurgia,
ela logo menstruou e alcançou a altura das outras irmãs.
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