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Estudo sugere marcador precoce para Alzheimer
Perda de habilidades espaciais pode ocorrer antes de dificuldades de memória
Por serem muito delicadas,
as alterações são difíceis de
serem percebidas no dia a
dia, mas podem sugerir
mais cedo o início da doença
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A doença de Alzheimer é primeiramente associada à perda
da memória, um dos seus principais sintomas. No entanto,
um estudo publicado no "Archives of Neurology", periódico
da Associação Médica Americana, mostrou que a perda de
habilidades espaciais -como
montar um quebra-cabeças ou
ler corretamente um mapa-
pode ocorrer antes da manifestação de dificuldades relacionadas às recordações.
Para o trabalho, pesquisadores da Universidade de Kansas
(EUA) acompanharam 444
pessoas por seis anos, em média. Os voluntários passaram
por testes de habilidades visuoespaciais e por avaliações
de memória e de cognição.
Desses pacientes, 134 desenvolveram demência -44 tiveram o cérebro examinado após
a morte e foi confirmado o diagnóstico de Alzheimer. Os pesquisadores observaram que a
perda das habilidades visuoespaciais se manifestou até três
anos antes do diagnóstico clínico de demência -chamada de
fase pré-clínica da doença.
"Até hoje, acreditava-se que a
manifestação mais precoce na
fase pré-clínica, para fazer
diagnóstico em um grupo de
risco, envolvia a questão da memória. As pesquisas partiam
mais para tentar encontrar um
subtipo de memória que indicasse a demência antes", diz o
geriatra José Marcelo Farfel,
do hospital Albert Einstein.
Segundo a patologista Lea
Grinberg, coordenadora do
Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da USP, estudos
já mostraram que a doença de
Alzheimer afeta de forma muito precoce áreas do cérebro envolvidas com a localização espacial. "Algumas questões visuoespaciais até existem no
diagnóstico clínico, mas, ainda
assim, sempre priorizamos a
memória", afirma.
Atualmente, a perda da memória episódica (de curta duração) é considerada o sinal mais
precoce de predisposição para
a doença. "O trabalho é pioneiro pela análise estatística. Sabíamos que, quando há falhas
na memória episódica, a doença não estava mais na fase inicial, por isso são desenhados
novos estudos para ver sintomas delicados que sinalizam a
doença antes", diz Grinberg.
Visão e espaço
O estudo indica um possível
marcador mais precoce da
doença, mas que ainda só é
apontado por meio de testes
neurológicos complexos.
"É importante ressaltar que
essas alterações são muito delicadas, difíceis de perceber no
dia a dia. O próximo passo, após
o trabalho, é desenvolver escalas mais simples para verificar
essa habilidade", diz Grinberg.
As habilidades visuoespaciais estão relacionadas à localização espacial -como estar
em um supermercado conhecido, mas não achar a prateleira
de certo produto.
Atividades que exijam uma
noção em três dimensões também podem ser prejudicadas
caso haja declínio nesse domínio. "Para o mecânico que desmonta e monta partes do carro,
isso se torna mais difícil",
exemplifica Grinberg.
Para Farfel, o marcador possibilitará que o paciente seja
acompanhado mais de perto,
mas ainda não foram estabelecidas intervenções específicas
para a fase pré-clínica da doença. "Fizeram estudos com remédios para Alzheimer em pessoas com transtorno cognitivo
leve, mas as drogas não impediram a evolução da doença", diz.
Por isso, essas pessoas devem
seguir recomendações gerais
para reduzir o risco de demência, como controle de pressão e
de diabetes, prática de atividades físicas e manter vida intelectual e social ativa. "Isso pode
ser recomendado com mais intensidade para quem apresentar perda nesses domínios."
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