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Doença alimentar causa insuficiência renal
Alerta vem de relatório americano que diz que intoxicações por alimentos podem provocar problemas graves em 3% dos casos
Em quase uma década, mais de 117 mil pessoas ficaram doentes e 64 morreram por doenças alimentares no Brasil, segundo ministério
CLÁUDIA COLLUCCI
RACHEL BOTELHO
DA REPORTAGEM LOCAL
As consequências das doenças alimentares podem ir muito além da diarreia e do vômito.
A longo prazo, elas estão relacionadas a complicações como
insuficiência renal, paralisia,
convulsões e deficiências auditivas e visuais.
O alerta vem do Centro de
Prevenção e Investigação de
Doenças Transmitidas por Alimentos (EUA), que divulgou
um relatório dizendo que 3%
das vítimas das intoxicações
alimentares podem ter graves
problemas de saúde no futuro.
O trabalho tem a parceria dos
CDCs (Centros de Controle e
Prevenção de Doenças).
No Brasil, mais de 117 mil
pessoas adoeceram e 64 morreram entre 1999 e agosto de
2008 por doenças alimentares,
segundo o Ministério da Saúde.
Mas os especialistas dizem que
os números são subestimados
porque os sintomas dessas
doenças costumam ser passageiros e, em cerca de 60% dos
casos, não levam o doente a
procurar um médico.
Nos EUA, onde o registro das
doenças alimentares é muito
mais eficiente, estima-se que
76 milhões de pessoas sofram
um episódio a cada ano. Ao menos 325 mil são hospitalizadas
e 5.000 morrem, segundo os
CDCs. Metade das vítimas tem
menos de 15 anos.
No relatório são citados os
alimentos mais envolvidos em
surtos de doenças nos EUA
(amendoim, pimentão, carne
moída e espinafre). A contaminação ocorreu durante a produção ou nos locais de venda.
Os micro-organismos responsáveis pelas infecções foram as bactérias Campylobacter, E. coli O157:H7, Listeria
monocytogenes, Salmonella e o
parasita Toxoplasma gondii.
A infecção pela bactéria
Campylobacter pode causar a
síndrome de Guillain-Barré, a
causa mais comum de paralisia
nos EUA. Também pode provocar artrite e infecção do coração. Já a E. coli O157:H7 pode
causar a síndrome hemolítico-urêmica, que leva à insuficiência renal aguda, especialmente
em crianças. A Listeria tem sido associada com infecções do
cérebro e da medula espinhal.
A Salmonella também pode
causar artrite reumatoide. E as
crianças cujas mães tiveram toxoplasmose, causada por um
parasita de origem alimentar,
podem desenvolver retardo
mental e deficiência visual.
"Não são apenas esses cinco
agentes. Há mais de 200 outros, com diferentes tipos de
consequência, e isso pode ser
evitado se houver mais segurança alimentar", disse a pesquisadora Tanya Roberts, responsável pelo relatório.
Para Maria Tereza Destro,
professora do Departamento
de Alimentos e Nutrição Experimental da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas da
USP, é provável que no Brasil a
situação seja semelhante à dos
EUA, mas o problema é que
não se consegue traçar a relação entre causa e efeito das
doenças alimentares. "A gente
deve ter muita doença acontecendo e não tem informação."
Segundo Destro, 6% das pessoas vítimas da infecção pela E.
coli podem ter problemas renais crônicos. "As pessoas que
têm infecção por Salmonella
podem ter artrite reumatoide.
É claro que, após dez anos, você
não vai relacionar a doença à
intoxicação alimentar."
Ela conta que essa relação da
Salmonella com a artrite reumatoide surgiu após seguranças do papa João Paulo 2º desenvolverem a doença quatro
anos depois de terem tido salmonelose (infecção pela Salmonella) durante uma viagem.
Segundo o clínico-geral Alfredo Salim Helito, do Hospital
Sírio-Libanês, a intoxicação alimentar é associada aos sintomas clássicos -vômito, diarreia, febre e até hepatite A em
pessoas não vacinadas. "Estaria
mentindo se dissesse que, ao
me deparar com um paciente
com artrite, um quadro neurológico ou uma miocardite, pensaria em comida contaminada.
Essa não é a primeira hipótese
diagnóstica", afirma.
Ele diz que é possível, com
um exame de cultura das fezes
de um paciente, isolar um germe associado a problemas articulares, por exemplo. Mas, em
sua prática clínica, os casos
mais graves com que se deparou foram de botulismo.
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