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Novos transtornos mentais serão incluídos na "bíblia" da psiquiatria
Publicação americana sairá em 2011, mas já causa polêmica entre os médicos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Associação Americana de
Psiquiatria prepara uma nova
edição do manual de distúrbios
mentais, a bíblia dos psiquiatras, que deve incluir comportamentos como a compulsão
por compras ou por comida como novos transtornos mentais.
A atual edição do manual, conhecido por DSM ("Diagnostic
and Statistical Manual of Mental Disorders"), foi publicada
em 2000 e descreve 283 distúrbios psiquiátricos-quase o triplo da primeira edição, de 1952.
O manual não é apenas um
guia rotineiro para o diagnóstico dos médicos de todo o mundo mas também uma referência para os planos e seguros de
saúde e para os governos.
A nova publicação deve sair
em 2011, mas já causa polêmica. Pela primeira vez, foi pedido
aos médicos que participam de
sua elaboração que assinem um
acordo de confidencialidade
-para evitar, por exemplo,
pressões dos laboratórios.
Porém, o que mais gera discussão é a possível inclusão no
novo manual de transtornos
como vício em compras ou em
comida, de doenças infantis
-como o transtorno bipolar e a
esquizofrenia- e de questões
ligadas à identidade de gênero.
Para o psiquiatra Theodor
Lowenkron, que coordena o
departamento de diagnóstico e
classificação da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, o DSM
atual já traz um número excessivo de categorias diagnósticas.
"Há uma tendência de psiquiatrização dos comportamentos."
O psiquiatra Miguel Roberto
Jorge, professor associado da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo), tem a mesma
opinião. "Não acreditamos que
existam 300 doenças mentais.
Esse sistema [DSM] precisa sofrer um processo de validação,
que é muito complicado de ser
feito. Precisaria conhecer tão
mais a respeito das doenças
psiquiátricas para poder dizer
que "essa aqui é a mesma coisa
daquela outra ali'".
Lowenkron avalia como polêmica a possível inclusão da
esquizofrenia e do transtorno
bipolar no rol de transtornos
infantis. "São diagnósticos precoces e inadequados para serem feitos na infância."
Já o psiquiatra infantil Fábio
Barbirato defende que a nova
DSM será um avanço importante porque vai trazer mais segurança aos profissionais, já
que existem muitos diagnósticos errados na infância. "Hoje
atendi um paciente de 12 anos
que é bipolar e foi diagnosticado há oito anos como TDAH
[Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade]. O
DSM é em prol das crianças,
não é para vender remédio."
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