São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Nozes e amêndoas ajudam a diminuir gordura abdominal

Estudo espanhol conclui que frutas oleaginosas são mais eficazes do que dieta com pouca gordura ou azeite de oliva

Para endocrinologista, os resultados mostram que reduzir gorduras pode não ser a melhor estratégia contra síndrome metabólica

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Frutas oleaginosas, como nozes, avelãs e amêndoas, ajudam a controlar a síndrome metabólica -associação de fatores de risco para doenças cardiovasculares relacionados à gordura abdominal e à resistência à insulina - com mais eficiência do que uma dieta de baixo teor de gordura e do que o azeite de oliva. Foi o que constatou um estudo espanhol publicado no "Archives of Internal Medicine", realizado com 1.224 participantes -61,4% tinham três ou mais fatores da síndrome.
Durante um ano, os voluntários consumiram uma dieta mediterrânea suplementada com 30 g diárias de oleaginosas, a mesma dieta adicionada de um litro semanal de azeite ou uma dieta pobre em gorduras vegetais e animais, todas sem restrição calórica.
Entre os que usaram as frutas, a redução na prevalência dos fatores da síndrome metabólica foi de 13,7% -contra 6,7% de redução entre os que consumiram azeite e de somente 2% entre os que mantiveram dieta pobre em gordura. "Esse artigo gera uma hipótese interessante, mostra que reduzir gorduras pode não ser a melhor estratégia nesse caso", diz o endocrinologista Walmir Coutinho, da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).
Uma das hipóteses para o baixo desempenho da dieta pobre em gordura é a compensação em carboidratos, que, em excesso, aumentam o nível de triglicérides, um dos fatores da síndrome metabólica. "A diminuição da gordura abdominal no grupo que consumiu as nozes é plausível, pois estão associadas ao aumento da saciedade e menor adiposidade. O efeito antiinflamatório dessa dieta pode estar ligado à redistribuição de gordura. Quando se substituem carboidratos de alto teor glicêmico pelas gorduras insaturadas do azeite e das nozes, os níveis de triglicérides caem e os de HDL sobem", disse à Folha Jordi Salas, professor de nutrição da Universidade de Rovira e Virgili (Espanha) e líder da pesquisa.

Azeite
Já o melhor resultado das frutas secas sobre o azeite pode ser explicado por inúmeros fatores. "As nozes poderiam ter efeito na síndrome metabólica por múltiplos mecanismos: são ricas em substâncias com propriedades antiinflamatórias (magnésio, fibra, arginina) e antioxidantes, que trariam efeitos benéficos", disse Salas.
A presença de triptofano nesses alimentos também pode ajudar. As nozes são ricas nesse substrato usado para fabricar serotonina, que ajuda na sensação de saciedade. O consumo das frutas, então, ajudaria na menor ingestão de outros alimentos. "Uma vantagem das oleaginosas é a riqueza em gordura monoinsaturada. Essas frutas têm bastante fibra, que diminui absorção de colesterol", acrescenta o cardiologista Heno Lopes, coordenador do Ambulatório de Síndrome Metabólica do InCor (Instituto do Coração) de São Paulo.
Para tirar proveito dos efeitos benéficos do azeite, a endocrinologista Cláudia Cozer aconselha o consumo de duas colheres de chá por refeição. "Se a dieta mediterrânea for seguida à risca, é possível usar à vontade nas principais refeições", acrescenta.

Dieta mediterrânea
Apesar dos diversos estudos que apontam a dieta mediterrânea -rica em vegetais, cereais integrais e gorduras insaturadas e pobre em laticínios, carne vermelha e doces- como protetora do sistema cardiovascular, para a realidade do brasileiro ela não basta, argumenta Heno Lopes. "Para a síndrome metabólica, que virou até um modismo, o estresse contribui bastante, não basta comer bem. É o estilo de vida, é esse conjunto que é mais importante". A atividade física é parte essencial nesse tipo de dieta e está na base da pirâmide alimentar.
Outro problema é misturar dietas, alega Cláudia Cozer. "Alguns alimentos da dieta mediterrânea são calóricos e podem engordar se consumidos em outras dietas." Quando se segue a dieta mediterrânea, é possível consumir até três porções de frutas oleaginosas (o equivalente a uma xícara e meia de chá por dia). Em uma dieta convencional, a indicação é de meia xícara diária.


Próximo Texto: Carboidratos devem ser controlados
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.