São Paulo, domingo, 21 de junho de 2009

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História

Trigêmeas depois da laqueadura

Márcia Martioli engravidou de trigêmeas idênticas enquanto amamentava a quarta filha; chance é de um em 200 milhões

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Márcia, com as trigêmeas Rafaella (em pé), Gabriella (sentada) e Isabella (deitada), de um ano

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 17 de abril do ano passado, a paranaense Márcia Cristina Broiani Martioli, 39, contrariou todas as probabilidades ao dar à luz trigêmeas idênticas, fruto de uma gravidez espontânea, após ter feito laqueadura das trompas. Márcia engravidou no período em que amamentava sua quarta filha.
A chance disso acontecer é quatro vezes menor do que a de ganhar na Mega-Sena com uma aposta simples -a probabilidade de uma pessoa ganhar o prêmio da loteria em um único jogo é de uma em 50.063.860.
O caso de Márcia, estimam os especialistas, é de um para cada 200 milhões de nascimentos. "Teria que nascer a população inteira do Brasil de novo para isso voltar a acontecer", diz Weber Alexandre Sobreira Moraes, obstetra que acompanhou a gravidez múltipla de Márcia e professor da UEM (Universidade Estadual de Maringá).
À matemática: o Ministério da Saúde estima que 85 em cada cem mulheres conseguem engravidar, em um ano, se não usarem nenhum método contraceptivo. Calculam, ainda, que duas em cada cem mulheres engravidam durante o período de amamentação.
Se a mulher tiver feito laqueadura, a chance de gravidez cai para um caso em cada mil mulheres. "Márcia reuniu todos os fatores que dificultam a gestação e engravidou de trigêmeas idênticas. Isso é tão raro que nunca mais vou ver isso na minha carreira", diz Sobreira.
Para comprovar que as meninas são, de fato, idênticas, elas fizeram um exame de sangue chamado HLA, que avalia a compatibilidade sanguínea, e um exame de DNA.

A descoberta
Em março de 2007, depois do nascimento da quarta filha, Márcia decidiu fazer laqueadura das trompas. A gravidez não havia sido planejada e ela não pretendia ter mais filhos -já era mãe de dois meninos e de uma outra menina. "Quando me casei, a ideia era ter apenas dois filhos", conta.
A cesárea transcorreu normalmente, e as trompas de Márcia foram cortadas. "Pensei que estaria sossegada, que não teria mais filhos", diz.
Cerca de quatro meses depois do procedimento, ainda amamentando Emanuella, a quarta filha, Márcia começou a passar mal. Sofria com enjoos frequentes, tinha dores nas costas, ficava muito cansada. Procurou diversos médicos para descobrir a origem dos desconfortos e foi diagnosticada com úlcera gástrica.
Começou o tratamento imediatamente, com drogas fortes, que provocaram efeitos colaterais na filha recém-nascida. Ela interrompeu o uso dos remédios, mas começou a perder peso e a enfraquecer.
Na peregrinação por outros médicos, surgiram suspeitas de cálculo renal ou pedra na vesícula. No dia do exame de ultrassom para procurar os possíveis cálculos, Márcia foi surpreendida com a notícia de que estava grávida de novo. De trigêmeas. Idênticas.
O exame foi repetido por outros médicos, para não deixar dúvidas de que era uma gravidez múltipla e univitelina. "Quando olhei para o monitor e vi a imagem dos fetos eu pensei: "Não posso estar grávida. Fiz laqueadura". Comecei a chorar desesperadamente", lembra.
O marido de Márcia, o sericicultor (que cultiva bicho-da-seda) Osvaldir Martioli, 45, também chorou ao receber a notícia. A principal preocupação do casal era como sustentar sete filhos com uma renda familiar que não ultrapassa R$ 2.000 por mês.
Além da preocupação financeira, a gravidez era de alto risco. Ela tinha acabado de sair de uma cesárea e o peso dos três fetos poderia provocar rompimento do útero. Também havia a possibilidade de morte de um dos bebês -situação comum em gravidezes múltiplas.
A partir de então, Márcia foi acompanhada por uma equipe especializada em gestações de risco e fez repouso absoluto -dentro do que era possível para uma dona de casa com quatro filhos (sendo uma recém-nascida). As três meninas -Gabriella Maria, Rafaella Maria e Isabella Maria- nasceram totalmente saudáveis, com 33 semanas de gestação, todas pesando mais de dois quilos.
A família ganhou de vizinhos da pequena Tupinambá (60 km de Maringá) e de desconhecidos os berços, os carrinhos, centenas de fraldas descartáveis e muitas roupinhas. "Quando elas eram recém-nascidas, eu usava umas 24 fraldas por dia", lembra.
Depois do parto das trigêmeas, Márcia decidiu retirar completamente as trompas para não poder mais engravidar. "Agora posso namorar em paz e sem medo", brincou.

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