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Sinais simples do câncer colorretal são ignorados
Somente 13% dos pacientes são diagnosticados na fase inicial da doença, diz estudo
Quanto mais cedo esse tipo de câncer for descoberto, maiores são as chances de cura - de até 90% quando o tumor é apontado no início
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Sintomas simples e muitas
vezes negligenciados, como
mudanças nos hábitos intestinais, anemia e sangramento
nas fezes, podem ser sinais do
terceiro tipo de câncer mais comum no mundo: o colorretal.
O fato de muita gente não valorizar esses sintomas, aliado
ao de que muitas vezes esse tipo de câncer é assintomático,
faz com que esses tumores sejam descobertos muito tarde,
como mostra um levantamento
recém-concluído pela Secretaria de Estado da Saúde.
Os dados mostram que só
13% dos pacientes com câncer
colorretal são diagnosticados
na fase inicial da doença. Foram analisados 2.636 novos casos registrados no ano de 2007
-as informações mais novas
disponíveis-, detectados e tratados em um grupo de hospitais
públicos do Estado, o que corresponde a 6,9% do total de casos de câncer computados.
"Muitas pessoas têm sangramento e não valorizam porque
pensam que o problema é hemorroida, por exemplo", exemplifica José Eduardo Castro,
coordenador geral de assistência do Inca (Instituto Nacional
de Câncer).
Quanto mais cedo esse tipo
de câncer for diagnosticado,
maiores são as chances de cura.
Até 90% das pessoas melhoram
quando o tumor é descoberto
no início. Segundo a pesquisa,
55% dos casos são diagnosticados na fase avançada.
Raul Cutait, coloproctologista e cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Sírio-Libanês, afirma que o tempo médio
transcorrido entre o primeiro
sintoma e o diagnóstico é de oito a nove meses. "Isso já pode
fazer diferença", diz, acrescentando que "toda perda de sangue deve ser esclarecida".
Não há uma política pública
nacional de rastreamento do
câncer colorretal -segundo o
Inca, isso está sendo estudado.
"Só poderemos implantá-lo se
tivermos condições de garantir
o diagnóstico e o tratamento
para todos. A colonoscopia
[exame que detecta o problema] exige uma estrutura mais
complexa do que a mamografia,
por exemplo", diz Castro.
Para Cutait, não existem recursos para rastrear todas as
pessoas com mais de 50 anos, e
os programas deveriam ser focados em grupos de alto risco.
Pessoas que têm a síndrome
de Lynch, um defeito genético,
têm 80% de chance de ter câncer de intestino e deveriam fazer uma colonoscopia a cada
dois anos a partir dos 25 ou 30
anos. A polipose familiar também aumenta o risco. Nos portadores, o exame deve ser feito
por volta dos 12 anos e repetido
a cada dois ou três anos.
Parentes de pacientes que tiveram câncer de intestino também têm risco maior -o ideal é
que, se o pai ou a mãe tiver tido
a doença, a pessoa faça o exame
a partir dos dez anos a cada três
ou cinco anos.
No estudo, a faixa etária a
partir dos 50 anos foi responsável por 81,3% dos casos de câncer colorretal. "Com o tempo, a
pessoa vai expondo a mucosa
do intestino a agentes cancerígenos. Com o envelhecimento
da população, a chance de ocorrer esse tipo de câncer aumenta", diz Michel Naffah Filho,
médico do Grupo Técnico de
Avaliação e Informações de
Saúde da Secretaria de Estado
da Saúde, responsável pelo levantamento. De fato, a incidência e a mortalidade do câncer
colorretal são crescentes.
Pessoas a partir dessa idade
que ingerem muita gordura e
pouca fibra não correm tanto
risco quanto nos outros casos
citados, mas a chance de ter o
câncer é maior do que para pessoas mais novas ou que tenham
uma dieta mais equilibrada.
O problema é que nem sempre o brasileiro tem acesso à colonoscopia. "A oferta desse exame no país não é uma superoferta", diz Castro, do Inca.
Segundo Naffah Filho, outra
dificuldade para o diagnóstico
precoce é que a baixa procura
pelo exame, mesmo quando é
disponível. "O Japão, que já faz
rastreamento há um bom tempo, tem cobertura de 18%."
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