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Falha na tireoide eleva risco cardíaco
Pela primeira vez, pesquisa estabelece relação entre o hipotireoidismo sem sintomas e doenças coronarianas
Estudo com 55 mil pacientes, incluindo brasileiros, pode mudar padrão de tratamento do problema hormonal
GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO
Um novo estudo acabou
com uma velha controvérsia,
ao provar que pacientes com
hipotireoidismo subclínico
(quando alterações hormonais não chegam a causar
sintomas) têm mais probabilidade de desenvolver doenças coronarianas.
Já se sabia que o hipotireoidismo manifesto (quando a queda na produção de
hormônios da tireoide causa
sintomas) tem relação com
maior mortalidade por doenças cardiovasculares.
Isso porque nesses pacientes há aumento dos níveis de
colesterol e triglicérides, aceleração do processo de formação de placas de gordura
e aumento das lesões na parede interna dos vasos. A relação da doença subclínica
com o risco cardíaco, no entanto, era incerta.
A pesquisa revisou dados
de mais de 55 mil pessoas em
vários países ao longo de 20
anos, incluindo o Brasil. Foi
publicada em setembro no
"Journal of the American Medical Association", um dos
principais da área.
Os dados da metanálise revelaram que o risco de ter
uma doença coronariana ou
um infarto é 89% maior nessas pessoas. A chance de
morrer também é 58% mais
alta para esse grupo.
O hipotireoidismo subclínico ocorre quando os níveis
do hormônio TSH, produzido
pela hipófise (glândula do
cérebro), aumentam para estimular o trabalho da tireoide. Isso pode sinalizar uma
falha no funcionamento da
glândula, mas que ainda não
se traduz em uma queda na
produção de T3 e T4 (hormônios da tireoide).
Mesmo assim, esses pacientes têm algumas alterações, como colesterol elevado, por exemplo.
O problema atinge entre
8% e 9% dos brasileiros,
principalmente mulheres.
"Havia uma polêmica na
literatura em relação ao risco
cardiovascular do hipotireoidismo subclínico", diz o endocrinologista José Augusto
Sgarbi, professor da Faculdade de Medicina de Marília,
que conduziu o estudo brasileiro em parceria com a Universidade Federal de São
Paulo, com apoio da Fapesp.
O resultado do trabalho
traz ainda outra questão: até
agora, as diretrizes atuais,
que acabam de ser revisadas,
não recomendam o tratamento dessas pessoas.
MAIS GENTE TRATADA
"Vamos ter que repensar
essas indicações e é possível
que passemos a tratar mais
gente", diz Laura Ward, vice-presidente do departamento
de tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia.
Segundo a pesquisa, o risco é significativo na faixa etária dos 60 ao 75 anos. "No entanto, levando em conta outros fatores, pacientes mais
jovens também podem receber indicação de tratamento", diz Sgarbi.
Além disso, o estudo levanta a discussão do diagnóstico da disfunção. Hoje
recomenda-se a dosagem de
TSH na pós-menopausa, em
mulheres com histórico familiar de doenças da tireoide ou
auto-imunes, nas gestantes e
nos recém-nascidos.
É possível que, acima dos
40 anos, a dosagem do TSH
vire rotina em exames de
check-up, principalmente
para as mulheres.
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