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Simpósio questiona conceito da dislexia como uma doença
Segundo neurologista americano, não há marcadores biológicos que justifiquem a existência do transtorno
Para associação pró-disléxicos, polêmica é infundada e já existem pistas genéticas para explicar o problema
GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO
O diagnóstico da dislexia,
transtorno neurológico que
compromete o aprendizado
das palavras e a leitura, está
dividindo os especialistas.
De um lado, médicos e psicólogos reunidos em simpósio internacional para debater o que chamam de "supostos distúrbios" contestam a
presença de marcadores biológicos na dislexia e no transtorno do deficit de atenção e
hiperatividade.
Do outro, entidades como
a ABD (Associação Brasileira
de Dislexia) tratam o transtorno disléxico como "uma
questão de saúde pública",
que pode afetar até 15% da
população mundial.
Para Steven Strauss, neurologista do hospital Franklin Square, em Baltimore,
EUA, são tantas as variáveis
do processo de alfabetização
de uma criança que seria perigoso resumi-las em uma só.
"O ato de ler só seria uma
questão médica se a base biológica da dislexia pudesse
ser demonstrada", afirmou.
Strauss afirma que mesmo
as imagens de ressonância
magnética não podem detectar a presença da doença.
"Quando a pessoa é submetida ao aparelho, ela é estimulada a ler apenas letras e
palavras fora de seu contexto. Não dá para medir a incapacidade de uma pessoa dessa forma", afirma.
PARA A VIDA TODA
A psicóloga Rosemari Marquetti de Mello, presidente
da Associação Brasileira de
Dislexia, tem posição oposta.
"O diagnóstico do distúrbio é difícil, complexo e não
pode ser fechado por um único médico, mas por uma
equipe multiprofissional."
Ela diz lamentar o fato de a
associação não ter sido convidada para o simpósio: "É
fácil tachar sem debater".
O neurologista Abram
Topczewski, autor do livro
"Dislexia: Como Lidar?" (Ed.
All Print) também discorda
do médico americano.
"Consideram que a dislexia não existe só porque
acham isso, mas temos que
nos basear nas evidências e
não na ideologia."
Segundo Topczewski, já
foram identificados locais
nos cromossomos que podem ser marcadores genéticos do distúrbio.
"É algo que a pessoa irá
carregar para o resto da vida", diz o neurologista.
EDUCAÇÃO
O debate sobre a dislexia
esbarra em discussão semelhante à que envolve o transtorno de deficit de atenção e
hiperatividade.
De acordo com os especialistas que criticam a suposta
onda de superdiagnósticos,
há uma tendência em atribuir à criança problemas que
são da estrutura de ensino.
Segundo Wagner Ranña,
do Hospital das Clínicas, por
trás das dificuldades de
aprendizado, há crianças
provenientes de escolas
ruins ou de famílias em que a
leitura não é estimulada.
"Em 35 anos de carreira,
nunca encontrei uma criança
que eu pudesse diagnosticar
como disléxica", conta.
Marilene Proença, presidente do Conselho Regional
de Psicologia, concorda.
"Antes de nos perguntarmos por que a criança não
aprende e encontrar nela o
problema, temos que questionar que escola estamos
oferecendo".
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