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"O que não mata deixa você mais forte"
Estudo com 2.400 americanos confirma máxima: quem passou por mais adversidades criou mais resistência psicológica
Pessoas pesquisadas sofreram diferentes tipos de trauma, de morte na família à violência urbana
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
O que não mata deixa mais
forte. Além de ser uma citação do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, essa é a
constatação de um estudo da
Universidade de Buffalo, nos
Estados Unidos, que vai ser
publicado na próxima edição
do "Journal of Personality
and Social Psychology".
Para chegar a essa conclusão, o pesquisador Mark
Seery e sua equipe acompanharam 2.398 americanos
entre 2001 e 2004.
As pessoas que passaram
por acontecimentos adversos e traumáticos tiveram
menos sintomas de estresse e
relataram mais situações de
bem-estar do que aquelas
que passaram por menos dificuldades.
Foram avaliadas 37 categorias diferentes de trauma
psicológico ou físico, incluindo morte de um familiar,
doença ou acidente, desastres naturais, divórcio ou presenciar um ato de violência.
"Entendemos que existe
uma relação entre experiências ruins e resiliência", diz
Seery à Folha.
A resiliência é um termo
da física adotado pela psicologia. Na ciência, é a possibilidade de um material voltar
à forma anterior depois de
sofrer pressão ou deformação. Para a psicologia, é a capacidade de uma pessoa enfrentar situações negativas e
retirar algo de positivo da experiência.
De acordo com Seery, o cérebro é capaz de aprender
com cada trauma e se tornar
mais experiente e mais forte.
Segundo a psicóloga Rosaly Ferreira Braga, do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência da Universidade Federal de São
Paulo, é preciso ter cuidado
ao falar em desenvolvimento
da resiliência.
"É possível ficar mais forte, mas há traumas mais e
menos impactantes. Não é
porque a pessoa sofreu um
assalto que ela vai poder ser
vítima de vários sem que isso
traga consequências", diz.
Não se sabe ao certo o que
faz uma pessoa naturalmente mais forte do que outras.
Sabe-se apenas que algumas
reagem positivamente a situações negativas, enquanto
outras desenvolvem transtornos como o estresse pós-traumático e a depressão.
ENFRENTAMENTO
A psicóloga e pesquisadora Ana Cristina Vasconcellos
acompanhou em sua dissertação de mestrado famílias
com pessoas paraplégicas.
"É muito mais fácil encontrar pessoas que não são resilientes. A vulnerabilidade é
muito mais comum. Um fator
decisivo no processo de enfrentamento é a família", diz.
Para o médico psiquiatra
José Toufic Thomé, coordenador do Departamento de
Intervenção em Desastres e
Catástrofes da Associação
Brasileira de Psiquiatria, as
pessoas deveriam pensar em
como desenvolver uma
"imunidade psíquica".
"Precisamos aprender a
conviver com adversidades
sem adoecer. A sociedade
moderna não pensa em trabalhar a resiliência."
Isso poderia ser feito, de
acordo com Seery, deixando
de lado estratégias prontas
de como superar problemas.
"Respostas diferentes são
normais. O maior equívoco é
pensar que todos devem reagir da mesma forma. Falar
sobre o trauma, por exemplo,
nem sempre é a melhor coisa
a ser feita."
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