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Equipamento prevê risco de o períneo se romper no parto
Aparelho mede a elasticidade da região e pode ajudar na indicação da episiotomia (corte realizado no parto vaginal)
Uso seletivo da intervenção leva a menos traumas no períneo e reduz necessidade de suturas e complicações relacionadas à cicatrização
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Departamento de Obstetrícia da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo) desenvolveu um aparelho que mede a
elasticidade do períneo (região
entre a vagina e o ânus) de gestantes. É o primeiro no mundo
criado para essa finalidade.
Com o equipamento, ainda
não disponível para comercialização, será possível avaliar a
necessidade de uma episiotomia -corte na região realizado
durante o parto normal para facilitar a passagem do bebê e evitar uma possível laceração.
Também permitirá ao médico avaliar a elasticidade do períneo da paciente durante a
gravidez -se a área apresentar
rigidez que possa prejudicar a
evolução do parto normal, a
gestante poderá realizar exercícios para melhorar a elasticidade e fortalecer a região.
"Já testamos o protótipo em
algumas gestantes, e o produto
se mostrou eficaz. Hoje não
existe método para avaliar se é
preciso ou não fazer episiotomia. Isso passa a depender
muito da experiência do médico", diz a fisioterapeuta da Unifesp Miriam Zanetti, responsável pela criação do medidor de
elasticidade perineal.
Para desenvolver o modelo,
Zanetti realizou um estudo
com 227 gestantes, apresentado neste ano em sua tese de
doutorado. Foi utilizado um
aparelho alemão, desenvolvido
para melhorar a elasticidade da
região. A pesquisadora o utilizou como medidor de elasticidade, em parceria com obstetras, e encontrou fatores e parâmetros que ajudaram a predizer o risco de laceração da região na hora do parto. Com os
dados, desenvolveu o aparelho.
Até dez anos atrás, a episiotomia era indicada universalmente no Brasil e na América
Latina, segundo o ginecologista
Eduardo Cordioli, presidente
da Comissão de Urgências em
Obstetrícia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). "Na verdade, somente de
30% a 35% dos partos normais
necessitam do procedimento."
Hoje, afirma Cordioli, as indicações são mais específicas e
visam, principalmente, facilitar
a passagem do bebê pelo canal
vaginal. Indica-se a episiotomia
quando o período expulsivo se
torna muito prolongado, há sofrimento fetal, é indicado o uso
de fórceps e quando o obstetra
observa risco iminente de rompimento do períneo.
"O aparelho vai ajudar o médico a tomar a decisão. Se tiver
comprovadamente sensibilidade e especificidade boas, será
de muito uso tanto para evitar
episiotomias desnecessárias
quanto para indicá-las e evitar
lacerações graves", diz ele.
O corte pode causar demora
na retomada à vida sexual, incontinência urinária e dificuldade de movimentação.
"Mas a ausência da episiotomia pode ser pior. Pode haver
maior índice de lacerações e
sangramentos de difícil controle. Todas as mulheres sofrerão
lacerações, sempre têm de levar ponto -as mais leves são
esperadas e são melhores comparando [com as possíveis
complicações] com a episiotomia", acrescenta Cordioli.
Uma revisão de estudos da
Cochrane (rede global dedicada à revisão de pesquisas na
área de saúde), publicada em
2008, mostrou que o uso seletivo da episiotomia (quando a
necessidade é comprovada) leva a menos traumas no períneo,
menor necessidade de suturas
e menos complicações decorrentes da cicatrização.
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