São Paulo, sábado, 24 de abril de 2010

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Espanha faz 1º transplante total de face

Cirurgia levou 22 horas e envolveu 30 especialistas; paciente recebeu ossos, vasos sanguíneos e até dentes de doador

Homem, vítima de acidente com arma de fogo, ficou 5 anos sem respirar e engolir direito; médicos dizem que ele está se recuperando bem

DA REDAÇÃO

Médicos espanhóis anunciaram ontem o sucesso do primeiro transplante de face completo do mundo. A operação aconteceu em março, mas só agora foram divulgados os detalhes da cirurgia.
O paciente que recebeu um novo rosto sofreu um acidente com arma de fogo há cinco anos. Ele não conseguia falar, engolir nem respirar direito desde então. O homem, cuja identidade não foi revelada, recebeu toda a pele e os músculos de um doador. Ossos da maçã do rosto e da mandíbula, nariz, lábios e dentes também foram transplantados. A operação demorou 22 horas.
O primeiro transplante parcial de rosto foi feito na França, em 2005. Uma mulher de 38 anos, que havia sido deformada por um cachorro, recebeu nariz, queixo e lábios novos. Desde então, operações semelhantes foram feitas nos Estados Unidos e na China. A cirurgia feita pelos espanhóis foi mais completa, porque incluiu mais ossos e mais partes da região inferior da face.
Os médicos responsáveis pela operação informaram, em uma coletiva de imprensa, que o paciente se recupera bem. A cirurgia foi feita por uma equipe de 30 especialistas no hospital espanhol Vall d'Hebron, em Barcelona.
O rosto do doador morto foi removido em uma operação que durou quatro horas. Veias, artérias, pele, músculos e ossos foram separados. O paciente recebeu anestesia ainda durante a cirurgia do doador e teve restos de pele removidos. A face do doador, com os vasos sanguíneos, foi costurada ao paciente usando técnicas de microcirurgia.
O homem foi selecionado para o transplante depois que outras cirurgias falharam.
Para Valter Garcia, ex-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, esses casos devem ser muito bem selecionados. "No caso do rosto, a qualidade de vida do paciente deve ser muito ruim para justificar os riscos."
Segundo Sebastião Nelson Edy Guerra, presidente da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), o próximo passo é lidar com a possibilidade de futura rejeição ao novo rosto. O paciente terá que tomar medicamentos antirrejeição pelo resto da vida, e ainda assim corre risco. Esses mesmos remédios podem, ainda, causar infecções, pela baixa da imunidade que causam.
Além disso, a adaptação ao novo rosto, do ponto de vista psicológico, pode levar anos. "Quando a mudança é por motivos que afetavam fisiologicamente a vida do paciente, como nesse caso, a primeira reação é positiva. Mas, com o passar do tempo, ele precisará de muito acompanhamento", pondera Guerra. Ele diz ainda que a exposição excessiva do paciente recém-operado pode prejudicar a adaptação.
O médico que chefiou a operação, Joan Pere Barret, afirma que o homem já se viu no espelho e ficou satisfeito. Ele diz que o paciente ficou com uma cicatriz que se assemelha a uma ruga no pescoço. "Se você olhar na cara dele, você vê uma pessoa normal, como qualquer outra pessoa que temos como um paciente no hospital."


Com agências internacionais


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