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Espanha faz 1º transplante total de face
Cirurgia levou 22 horas e envolveu 30 especialistas; paciente recebeu ossos, vasos sanguíneos e até dentes de doador
Homem, vítima de acidente com arma de fogo, ficou 5 anos sem respirar e engolir direito; médicos dizem que ele está se recuperando bem
DA REDAÇÃO
Médicos espanhóis anunciaram ontem o sucesso do primeiro transplante de face completo do mundo. A operação
aconteceu em março, mas só
agora foram divulgados os detalhes da cirurgia.
O paciente que recebeu um
novo rosto sofreu um acidente
com arma de fogo há cinco
anos. Ele não conseguia falar,
engolir nem respirar direito
desde então. O homem, cuja
identidade não foi revelada, recebeu toda a pele e os músculos
de um doador. Ossos da maçã
do rosto e da mandíbula, nariz,
lábios e dentes também foram
transplantados. A operação demorou 22 horas.
O primeiro transplante parcial de rosto foi feito na França,
em 2005. Uma mulher de 38
anos, que havia sido deformada
por um cachorro, recebeu nariz, queixo e lábios novos. Desde então, operações semelhantes foram feitas nos Estados
Unidos e na China. A cirurgia
feita pelos espanhóis foi mais
completa, porque incluiu mais
ossos e mais partes da região
inferior da face.
Os médicos responsáveis pela operação informaram, em
uma coletiva de imprensa, que
o paciente se recupera bem. A
cirurgia foi feita por uma equipe de 30 especialistas no hospital espanhol Vall d'Hebron, em
Barcelona.
O rosto do doador morto foi
removido em uma operação
que durou quatro horas. Veias,
artérias, pele, músculos e ossos
foram separados. O paciente
recebeu anestesia ainda durante a cirurgia do doador e teve
restos de pele removidos. A face do doador, com os vasos sanguíneos, foi costurada ao paciente usando técnicas de microcirurgia.
O homem foi selecionado para o transplante depois que outras cirurgias falharam.
Para Valter Garcia, ex-presidente da Associação Brasileira
de Transplante de Órgãos, esses casos devem ser muito bem
selecionados. "No caso do rosto, a qualidade de vida do paciente deve ser muito ruim para justificar os riscos."
Segundo Sebastião Nelson
Edy Guerra, presidente da
SBCP (Sociedade Brasileira de
Cirurgia Plástica), o próximo
passo é lidar com a possibilidade de futura rejeição ao novo
rosto. O paciente terá que tomar medicamentos antirrejeição pelo resto da vida, e ainda
assim corre risco. Esses mesmos remédios podem, ainda,
causar infecções, pela baixa da
imunidade que causam.
Além disso, a adaptação ao
novo rosto, do ponto de vista
psicológico, pode levar anos.
"Quando a mudança é por motivos que afetavam fisiologicamente a vida do paciente, como
nesse caso, a primeira reação é
positiva. Mas, com o passar do
tempo, ele precisará de muito
acompanhamento", pondera
Guerra. Ele diz ainda que a exposição excessiva do paciente
recém-operado pode prejudicar a adaptação.
O médico que chefiou a operação, Joan Pere Barret, afirma
que o homem já se viu no espelho e ficou satisfeito. Ele diz
que o paciente ficou com uma
cicatriz que se assemelha a uma
ruga no pescoço. "Se você olhar
na cara dele, você vê uma pessoa normal, como qualquer outra pessoa que temos como um
paciente no hospital."
Com agências internacionais
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