São Paulo, sexta-feira, 24 de junho de 2011
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PERFIL ANGELITA GAMA Das tripas coração Premiada pela Fundação Conrado Wessel, a cirurgiã Angelita Gama, 79, destaca-se pelo trabalho de prevenção do câncer de intestino
SABINE RIGHETTI DE SÃO PAULO Angelita Gama, primeira mulher titular em cirurgia da USP, é conhecida como uma das maiores especialistas em câncer de intestino do mundo. Hoje, mantém uma rotina de três dias por semana dedicados integralmente à cirurgia. Mas não opera à toa. A médica paraense, nascida na ilha de Marajó, desenvolveu um método que combina radioterapia e quimioterapia e substitui os tratamentos mais invasivos. No caso do câncer de intestino, evitar o bisturi significa qualidade de vida: parte dos operados sofre de problemas como incontinência fecal. A trajetória acadêmica rendeu recentemente à especialista o prêmio da categoria medicina da Fundação Conrado Wessel, criada pelo testamento do empresário de mesmo nome, que homenageia grandes nomes da ciência, arte e cultura. EXAME DE ROTINA Um dos esforços pessoais de Gama é tornar os exames de detecção do câncer de intestino mais comuns na rotina dos médicos. De acordo com ela, ainda não é comum no Brasil que seja solicitado aos pacientes o exame de sangue oculto nas fezes ou colonoscopia (endoscopia que permite a visualização do interior do cólon). "A anemia em adultos, por exemplo, pode ser um sintoma de câncer de intestino. Poucos médicos fazem essa associação", diz Gama. O câncer de intestino, que afeta 28 mil brasileiros por ano e já é uma das principais causas de morte de mulheres na região Sudeste, depois do câncer de mama, pode ser evitado com exames preventivos e com boa alimentação. Mas, de acordo com Gama, "concorrer" com dengue e malária é difícil, já que o país ainda é carente no tratamento de doenças tropicais. "A quantidade de pacientes com câncer de intestino deve aumentar no futuro. As pessoas estão se alimentando muito mal. Há corantes em tudo, desde a mamadeira." O trabalho de conscientização de Gama incluiu até a criação de uma associação em 2004, a Abrapreci (Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino). Entre as atividades, mantidas com dinheiro privado, está o "intestinão", como Gama gosta de chamá-lo. 'INTESTINÃO' É uma réplica gigante de um intestino que permite que o visitante visualize pólipos ("calombos" na parede intestinal), doença inflamatória e câncer nas paredes do órgão. "Toda vez que o 'intestinão' viaja, leva conhecimento. Já tivemos mais de 100 mil visitantes", explica. Hoje, há um exemplar do "intestinão" no Catavento Cultural e Educacional, uma espécie de museu de ciências que fica em São Paulo. "Quando a gente opera um doente, cuidamos de um por um. Mas quando fazemos um trabalho preventivo amplo, o alcance é muito maior." A sala do consultório da cirurgiã da Faculdade de Medicina da USP é repleta de mimos. Um dos que ela mais gosta é uma miniatura de gato de cristal com um colar que imita pérolas -item fundamental da sua vestimenta. "Ganhei de um paciente", diz a médica. Ele teve câncer de intestino recentemente e foi operado por Gama. "Sou amiga dos meus pacientes. Saio para jantar com eles e com meu marido." Texto Anterior: FOLHA.com Próximo Texto: Conexão cérebro-máquina sem fio já existe Índice | Comunicar Erros |
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