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Venda de Acomplia é suspensa por risco de suicídio e depressão
Remédio, conhecido como pílula antiobesidade, dobra as chances de transtornos psiquiátricos, segundo estudos
A recomendação é da Emea, órgão europeu responsável pela regulamentação de medicamentos, e deve ser seguida em todo o mundo
CLÁUDIA COLLUCCI
FLÁVIA MANTOVANI
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
A venda do remédio antiobesidade Acomplia (rimonabanto) foi suspensa temporariamente ontem em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o
medicamento é comercializado
desde abril deste ano. A recomendação sobre a suspensão
partiu da Agência Européia de
Medicamentos (Emea).
O medicamento é indicado a
pessoas obesas e com sobrepeso, mas pesquisas demonstraram que ele pode aumentar o
risco de transtornos psiquiátricos graves, como depressão e
ansiedade -informações que
constam na bula do remédio.
Ontem, o comitê de produtos
médicos de uso humano da
Emea concluiu, baseado em
pesquisas clínicas, que pacientes que usam o Acomplia têm o
dobro de chances de desenvolver transtornos psiquiátricos
-depressão, ansiedade e problemas de sono- comparados
àqueles que tomaram placebo.
Segundo a agência européia,
os resultados do medicamento
não compensam seus riscos. A
recomendação é que os médicos não devem mais receitar a
droga a seus pacientes e precisam rever o tratamento daqueles que a estão tomando.
"Pacientes que estejam tomando Acomplia devem consultar seus médicos para discutir o tratamento. Não é preciso
parar de tomar o remédio imediatamente, mas aqueles que
queiram parar podem fazer isso a qualquer momento", diz
trecho da nota da Emea.
A Anvisa recebeu o pedido do
laboratório ontem e hoje deve
soltar uma nota sobre o assunto. O órgão orienta os médicos a
pararem de receitar imediatamente o remédio e os pacientes
que usam o medicamento a
procurarem seu médico para
receber uma nova orientação.
Segundo Antônio Roberto
Chacra, chefe da disciplina de
endocrinogia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o Acomplia sempre teve
efeitos colaterais discutíveis.
"Apóio a decisão da suspensão.
Medicações devem sempre ajudar. Se houver qualquer risco,
tem que suspender mesmo."
Ele diz que receitava pouco o
remédio e que seus pacientes
não tiveram efeitos colaterais
graves, mas alguns ficaram
emocionalmente instáveis. "O
laboratório sempre avisou que
o medicamento não deveria ser
usado com fins estéticos, apenas em pacientes com fatores
de risco, com uma obesidade
muito grande. Mas, com esses
estudos, é melhor suspender."
Ele diz que as melhores alternativas ao medicamento são
dieta e exercício, que não trazem esse tipo de efeito colateral. "Mas, às vezes, é difícil, o
paciente quer o remédio."
Outro lado
Segundo Jaderson Lima, diretor médico da Sanofi Aventis,
a empresa ainda aposta na relação risco/benefício do remédio
e está desenvolvendo estudos
para obter a aprovação do seu
uso para diabéticos e pacientes
com risco cardiovascular. Ele
afirma que nenhum comitê de
segurança independente -que
avalia, entre outras coisas, a segurança da droga- vetou a continuidade dos estudos.
O Acomplia é comercializado
em 18 países da Europa, além
da América Latina, entre outros, com 700 mil usuários no
mundo -30 mil no Brasil. "A
empresa decidiu se antecipar e
suspender em todo o mundo.
Não é recall. O produto não tem
defeito", afirma Lima.
Segundo ele, os dados recentes indicam que a relação risco/
benefício não se justifica ao
grupo de paciente para o qual
ele foi aprovado. "As contra-indicações e as orientações da bula não foram suficientes para
minimizar os riscos."
Histórico
Comercializado na Europa
desde 2006, o Acomplia chegou
a ser considerado uma das
maiores promessas da indústria farmacêutica no combate à
obesidade. Em junho de 2007,
ele foi vetado pela FDA (agência norte-americana que regula
alimentos e fármacos), que pediu mais estudos sobre os seus
efeitos colaterais, especialmente os distúrbios psiquiátricos e
risco de suicídios.
O comitê da FDA revisou os
resultados de um amplo programa de 59 estudos clínicos
que envolveram mais de 15 mil
pacientes. Dados adicionais sobre a segurança do rimonabanto foram obtidos a partir de estudos ainda em andamento e de
mais de 110 mil pessoas que já
tomaram o rimonabanto na
Europa e em outros países. O
veto se apoiou no mesma razão
que levou a Emea a recomendar agora a suspensão.
No Brasil, a droga foi aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no
ano passado, mas só começou a
ser vendido neste ano por conta de um impasse sobre o preço.
Mesmo diante das pesquisas
internacionais que demonstravam o risco do remédio, médicos brasileiros defendiam o
Acomplia e diziam acreditar
que ele trazia mais benefícios
do que riscos.
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