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Lente pode atrasar piora da miopia
Resultados preliminares de estudo com crianças chinesas apontam progressão até 55% mais lenta
Especialistas veem avanço
em pesquisa, mas afirmam
que ainda são necessários
mais estudos antes que
bifocais sejam prescritas
MARIANA VERSOLATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O uso de lentes bifocais pode
reduzir a progressão da miopia
em crianças, revela um estudo
publicado na última edição do
"Archives of Ophthalmology".
Na comparação com lentes monofocais, as bifocais ajudaram a
diminuir a progressão do problema em até 55%.
Tratam-se dos primeiros resultados significativos a respeito de uma investigação feita há
anos sobre o efeito de lentes
positivas -bifocais ou multifocais- para reduzir a progressão
do distúrbio, de acordo com a
presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, Célia Nakanami. "De tudo
que já li a respeito, esse é o estudo em que as bifocais tiveram
maior efeito na redução", diz.
Pessoas com miopia têm dificuldades de enxergar de longe,
mas não precisam se esforçar
para ver de perto. A pesquisa
mostrou que, com as lentes bifocais (que têm a parte superior
para visão à distância e a parte
inferior para a visão de perto), a
pessoa míope precisaria fazer
um esforço para ver de perto
-e esse esforço ajudaria a diminuir a progressão da miopia.
Durante dois anos, os pesquisadores estudaram o efeito das
lentes em 135 crianças chinesas
com média de dez anos de idade
e altas taxas de progressão
(maior que 0,5 grau por ano) .
Elas foram divididas em grupos
que usaram lentes monofocais,
bifocais e bifocais com prisma
-geralmente usadas para corrigir estrabismo.
No começo do estudo, a miopia das crianças era, em média,
de três graus. Durante o estudo,
aquelas que continuaram a
usar lentes monofocais tiveram
uma progressão de 1,55 grau
por ano. As crianças que usaram bifocais e bifocais de prisma, no entanto, tiveram taxas
de progressão de 0,96 e 0,7, respectivamente.
De acordo com a oftalmologista Denise Fornazari, do Hospital das Clínicas da Unicamp,
as lentes bifocais melhorariam
a qualidade da imagem na retina, prevenindo o crescimento
anormal do olho e o consequente aumento da miopia.
"No entanto, é preciso estudar o uso de bifocais em outras
populações e a longo prazo.
Ainda não há evidências suficientes que justifiquem a recomendação de lentes bifocais
para crianças com o objetivo de
retardar a progressão da miopia", afirma Fornazari.
A mesma cautela é seguida
por Nakanami. "Não se trata
ainda de uma conduta aceita
clinicamente, pois é necessário
que mais estudos a respeito sejam feitos", diz.
O trabalho afirma que as características da miopia não variam em diferentes grupos étnicos, mas diz que é preciso
avaliar se o tratamento será eficaz a longo prazo para que os
resultados sejam práticos.
A tendência de rápida progressão da miopia é genética.
Segundo Fornazari, a progressão estabiliza por volta dos 25
anos de idade.
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