São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

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Uso de luz não aumenta eficácia do clareamento

Pesquisadores compararam o uso do gel clareador com e sem auxílio de luzes

Estudo também concluiu que o calor emitido pela luz é prejudicial para o esmalte dos dentes, deixando-o mais rugoso e menos duro

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O uso de fontes de luz no processo de clareamento dental não aumenta a eficácia do procedimento nem melhora o resultado final, aponta estudo feito por pesquisadores noruegueses, publicado no mês passado na revista "Photochemical e Photobiological Sciences".
Além de comparar os resultados do clareamento, os pesquisadores também avaliaram os efeitos adversos que a luz provoca nos dentes. Eles constataram que o calor emitido é prejudicial para o esmalte dos dentes, deixando-o mais rugoso e diminuindo a sua resistência.
Os pesquisadores usaram dentes humanos recém-extraídos e os dividiram ao meio. Antes de iniciar o procedimento, a cor dos dentes foi avaliada de acordo com uma escala.
Em seguida, uma metade do dente recebeu o gel clareador com o auxílio de luz e a outra metade recebeu apenas o produto químico. Foram avaliados sete géis disponíveis no mercado (desses, ao menos quatro são usados no Brasil).

Sem diferença
Os resultados do clareamento foram comparados imediatamente e uma semana mais tarde. Os pesquisadores constataram que não houve diferença de cor no resultado final.
A pesquisa reacende uma discussão polêmica sobre o real efeito das luzes, entre elas o laser, no resultado do clareamento. Hoje, o uso do laser é amplamente divulgado como um diferencial a mais no tratamento, porque, em tese, ele traria resultados melhores.
A questão discutida pela comunidade científica é que o clareamento é proporcionado pelo agente oxidante presente na composição do gel e não pela luz. Isso porque o gel, em contato com a saliva, inicia uma reação química e libera moléculas de oxigênio. São elas que penetram nos dentes e quebram as moléculas de carbono (mais escuras), fazendo o dente ficar mais branco.
"O clareamento dental existe há 20 anos e há uns dois ou três anos trabalhos científicos estão apontando que a luz não significa tudo aquilo que a gente pensava. Dentro da comunidade científica, a gente sabe que a luz não traz tantos efeitos, mas muitos dentistas a usam como marketing", diz Cláudia Cia Worschech, diretora-científica da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética.

Mais sensibilidade
Segundo Worschech, o clareamento dental surgiu nos EUA, em 1989, para ser usado com gel de baixa concentração, em moldeiras, durante algumas horas por dia. Mas, com o passar do tempo, a composição dos géis foi ficando mais concentrada, para que a ação fosse mais rápida, e as fontes de luz foram associadas, pois elas pareciam estimular ou otimizar a liberação de oxigênio, tornando o clareamento mais eficaz.
"O problema surgiu porque, com o aumento da concentração dos géis e o uso de luzes ativadoras, apareceram os primeiros relatos em relação à sensibilidade acentuada dos dentes durante o procedimento ou logo após", explicou Worschech.
O dentista Luciano Artioli Moreira, presidente da ABCD (Associação Brasileira de Cirurgiões Dentistas) não concorda com os resultados da pesquisa. "Se você mudar o gel, o tempo de aplicação, o tipo de luz e os parâmetros usados, a coisa muda de figura", afirma.
Ele diz que o uso correto da luz, associado à escolha do gel adequado, pode estimular o clareamento e tornar o processo mais rápido e mais seguro. "Quanto menos sessões forem necessárias para obter o resultado, melhor para o paciente."
Além disso, Moreira diz que o uso do laser associado à luz de LED (que é mais fria), proporciona um efeito analgésico e anti-inflamatório nos dentes, evitando a hipersensibilidade e melhorando o procedimento.
Worschech questiona parte dos resultados. Para ela, ainda não há comprovação científica suficiente que mostre que os dentes ficam mais fracos e sem resistência após o procedimento. "A gente sabe que há uma alteração da superfície do esmalte do dente, que gera uma hipersensibilidade, mas esse é um efeito transitório, sem implicações clínicas", afirma.



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