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Exame pode detectar Alzheimer
Estudo com 518 pessoas avalia eficácia de método que identifica biomarcadores presentes no liquor
Outros grupos trabalham com exames de sangue ou por imagem; hoje, a forma mais precisa de atestar a doença é por autópsia
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, publicado em edição
on-line do "Annals of Neurology", demonstra resultados
promissores de um teste que
detecta a presença de biomarcadores no liquor (líquido da
medula espinhal) para detectar
precocemente a doença de Alzheimer, antes de os primeiros
sintomas se manifestarem.
Os pesquisadores avaliaram
a presença das proteínas beta-amiloide 42 e tau (indicadores
da doença) em amostras do liquor de 410 pacientes de um
programa de pesquisa sobre Alzheimer, de 52 pessoas com características cognitivas normais e de outras 56 pessoas
com diagnóstico de Alzheimer
confirmado na autópsia.
Segundo a pesquisa, a precisão do exame chegou a 87% em
geral e a até 96,4% na análise da
presença de beta-amiloide naqueles que tiveram a confirmação da doença por autópsia.
Além disso, o teste teve eficácia
de 81% para avaliar as chances
de um déficit cognitivo leve
evoluir para doença de Alzheimer, valores considerados satisfatórios pelos pesquisadores.
Trabalhos de avaliação desse
tipo de teste são realizados há
alguns anos, mas ainda mostram deficiências em alguns casos específicos. "Em resumo, a
proposta é atraente, mas não se
pode causar alarde, porque são
marcadores em testes", afirma
a patologista Lea Grinberg,
coordenadora do Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -o maior do mundo.
A relevância do estudo da
Pensilvânia está no número de
pacientes e na variedade da
amostra -como foram avaliadas pessoas de 56 partes dos
EUA e do Canadá, o trabalho
contempla várias etnias. Essas
características são importantes
para ajudar a validar um método para diagnóstico.
Outros estudos
No Brasil, grupos de pesquisa
também estudam a presença de
marcadores para o diagnóstico
precoce da doença, como o do
neurologista Paulo Caramelli,
da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Ele acredita que os estudos
avançam, mas que ainda exigem mais comprovação. "A
grande dúvida é sobre qual será
o documento-fonte [desse tipo
de teste]: podemos usar o liquor, feito por um exame invasivo, o sangue ou uma imagem
que detecta a proteína beta-amiloide no cérebro da pessoa
viva", explica. Também estão
sendo desenvolvidos testes de
memória específicos e outros
estudos que trabalham com
imagens cerebrais.
Hoje, a forma mais precisa de
atestar a doença é por autópsia.
No paciente vivo, é possível detectá-la com alguns testes clínicos e de imagem. "Entretanto,
só 70% desses diagnósticos são
confirmados na autópsia. Ademais, esse diagnóstico em vida
só é feito quando a doença está
mais avançada. No início, é difícil saber", afirma Grinberg.
O resultado chega tarde,
quando o indivíduo já manifesta prejuízo no desempenho das
funções do dia a dia, como vestir-se, banhar-se, administrar o
dinheiro e tomar medicação.
Um biomarcador que possa
ser dosado no sangue ou no liquor ou em um exame de imagem favorecerá um diagnóstico
precoce da doença, preservando as capacidades cognitivas do
paciente. "Além disso, seria imprescindível para a realização
de estudos de melhor qualidade para testar a eficácia de drogas e estratégias terapêuticas
para a doença", completa o geriatra José Marcelo Farfel, responsável pelo setor clínico do
Banco de Cérebros da USP.
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