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Planta popular pode virar 1º quimioterápico brasileiro
Estudos mostram que o uso da avelós pode estabilizar câncer e aliviar dores
Erva inibe enzimas ligadas à multiplicação de tumores, mas não deve ser usada inadvertidamente porque
é extremamente tóxica
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma planta usada tradicionalmente em chás medicinais e
nas populares "garrafadas" (bebida que reúne várias ervas) está sendo testada no tratamento
do câncer. Estudos iniciais desenvolvidos no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert
Einstein, em São Paulo, mostram que ela conseguiu estabilizar o quadro clínico de uma
doente terminal e que também
foi eficaz no alívio das dores.
Encontrada no Norte e no
Nordeste do país, a avelós (Euphorbia tirucalli) produz uma
seiva semelhante ao látex, que
é muita tóxica e cáustica. Se cai
nos olhos, pode cegar.
O primeiro passo dos pesquisadores foi então isolar apenas
as substâncias benéficas da
planta e transformá-las em
uma pílula, chamada de AM10.
Se a eficácia da droga for
comprovada nos próximos estudos, ela poderá se transformar no primeiro medicamento
oncológico nacional.
Tudo começou há seis anos,
quando o empresário nordestino Everaldo Telles viu um parente melhorar após usar a
planta para tratar um câncer.
Ele decidiu investir em pesquisas e, com o farmacêutico Luiz
Pianowski, iniciou a fase pré-clínica (testes em células de
cultura e animais).
"Nos testes in vitro e com
animais a droga funcionou bem
contra as células de tumores",
afirma Pianowski. Nessa fase,
os estudos foram feitos na Universidade Federal do Ceará e
na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
O Einstein entrou na história
há um ano, na fase 1 da pesquisa clínica. A droga foi testada
em sete pacientes oncológicos
terminais, que já haviam recebido todo tipo de tratamento
disponível sem obter resposta.
O intuito do estudo foi descobrir a dose máxima da substância tolerada pelo organismo, não de medir sua eficácia.
Ainda assim, uma paciente
do grupo de estudo, com câncer metastático, teve a doença
estabilizada. "Não sabemos se
isso ocorreu por causa da droga
ou porque a doença é de progressão lenta", diz o médico
Auro Del Giglio, gerente da oncologia no Einstein e um dos
coordenadores da pesquisa.
Os outros pacientes tratados
com avelós relataram melhora
da dor. "Talvez a droga seja um
bom analgésico, e não um anticancerígeno. Pesquisas desse
tipo geram muita expectativa."
Del Giglio diz que as pessoas
não devem usar a planta inadvertidamente. "O látex é extremamente tóxico."
A fase 2 da pesquisa avaliará
40 pacientes oncológicos de
outras cinco instituições, entre
elas o Instituto Arnaldo Vieira
de Carvalho e a Faculdade de
Medicina do ABC. Será testada
a atividade do princípio ativo
nas células tumorais.
A avelós causa um processo
chamado de apoptose celular,
uma espécie de suicídio das células. Purificada, ela age inibindo enzimas relacionadas à multiplicação dos tumores.
Segundo Pianowski, há diversos relatos de pessoas com
câncer, que estavam desenganadas pelos médicos e que se
curaram após usarem a planta.
"Não esperamos que ela cure
todos os tipos de câncer. Mas
certamente será eficaz para diversos deles. Várias drogas oncológicas começaram assim."
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