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Poluente contamina leite materno em SP
Estudo da Unicamp revela presença de PCB em amostras coletadas em seis de nove bancos de leite; capital paulista tem maior taxa
Concentração de agente cancerígeno está abaixo dos níveis tidos como perigosos; pesquisadores cobram mais rigor na fiscalização
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo da Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas) revela que 58% das
amostras de leite materno coletadas na cidade São Paulo estão
contaminadas por PCB (policloretos de bifenilas), agente
cancerígeno ligado a problemas
de desenvolvimento e baixo nível de coeficiente intelectual e
que figura entre os dez poluentes mais tóxicos, segundo o
Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente.
Embora a concentração máxima encontrada no leite materno (13,86 microgramas por
litro) de mães paulistanas esteja abaixo dos níveis considerados perigosos às crianças (nos
EUA e na Europa, os limites
aceitáveis variam de 20 a 60
microgramas por litro), os pesquisadores alertam para a necessidade de um controle mais
rígido desses agentes. No Brasil, não há legislação específica
para os níveis desses compostos no leite materno.
A comercialização de PCB
está proibida no país desde
1981 -nos EUA, foi banida em
1976-, mas o uso ainda é tolerado em alguns equipamentos
até que eles sejam desativados
ou substituídos. No Estado de
São Paulo, uma lei prevê a eliminação até 2020.
O PCB foi muito usado como
fluído de transformadores elétricos, isolantes térmicos, óleos
lubrificantes e tintas. A partir
de 1970, vários países vetaram
o uso, mas o produto continua
presente em equipamentos antigos e no ambiente-onde pode permanecer por até 40 anos.
O trabalho da Unicamp avaliou 200 amostras de leite materno coletados em bancos de
leite humano de nove Estados
brasileiros. Esses dados foram
cruzados com informações de
um questionário aplicado às
mães, com perguntas sobre hábitos alimentares e locais da
habitação, entre outras.
Das amostras analisadas no
estudo de Schröder, apenas as
coletadas em Rio Branco (AC),
Araxá (MG) e São Luís (MA)
não apresentaram contaminação. Outros Estados investigados foram Espírito Santo, Sergipe, Santa Catarina, Paraná e
Rio Grande do Norte -que tiveram índices de contaminação inferiores ao de São Paulo,
que apresentou a maior taxa.
Algumas das conclusões do
trabalho: os maiores índices de
contaminação estão no leite de
mães que moram nas proximidades de indústrias ou rios poluídos; o primeiro filho normalmente recebe uma dose maior
de PCB em relação aos outros
que o sucedem, o que sugere
um efeito cumulativo; o leite
maduro -liberado entre a segunda e a terceira semanas de
amamentação-, mais gorduroso, é o mais contaminado.
No organismo humano, o
PCB se acumula principalmente nos tecidos gordurosos de
homens e mulheres, como fígado e região subcutânea.
"As mamas, que têm grande
quantidade de tecido adiposo,
são uma das regiões do corpo
em que há maior acúmulo desses compostos", diz a pesquisadora Cláudia Kowalski Schröder, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.
Os bebês que ingerem leite
materno contaminado por PCB
-em grandes concentrações-
podem apresentar calcificação
anormal do crânio, baixo peso,
anemia, crescimento reduzido
e baixo QI. Também têm mais
riscos de sofrer problemas
imunológicos, respiratórios,
hepáticos e outros do sistema
nervoso central.
A pesquisadora reforça que a
população não deve se alarmar
com os resultados da pesquisa.
"Os níveis encontrados não são
capazes de causar dano ao recém-nascido, mesmo ele sendo
amamentado por todo o período recomendado. O leite materno é o alimento mais completo para o bom desenvolvimento físico e mental do bebê."
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